A NASA quer enviar humanos para Marte na próxima década, e para os manter saudáveis durante a viagem, a agência terá muito a aprender com os morcegos. Novas descobertas podem ter dado o primeiro passo.
As pessoas não podem hibernar por algumas razões. Acima de tudo, o nosso corpo não consegue armazenar gordura suficiente sem se prejudicar, funcionar com níveis de energia e atividade cerebral tão baixos, ou sobreviver a uma queda maciça da temperatura corporal, explica a National Geographic.
Há várias espécies de animais que hibernam, mas os morcegos são fáceis de estudar por serem pequenos (pelo menos quando os comparamos aos ursos, por exemplo), como aponta Gerald Kerth, zoólogo da Universidade de Greifswald, na Alemanha.
Quando está frio, as células dos morcegos alteram-se drasticamente, permitindo que o corpo do animal otimize o oxigénio e sobreviva ao clima. Para uma viagem a Marte, seria ideal que os humanos também o pudessem fazer.
Foi com essa motivação em mente que Kerth e a sua equipa levaram a a cabo um estudo publicado em outubro na Proceedings of the National Academy of Sciences.
Nas florestas perto do laboratório da Universidade de Greifswald, os cientistas capturaram 35 morcegos-arborícola-grande selvagens, que hibernam em grandes colónias. Antes de os libertarem novamente, escolheram o sangue dos animais no laboratório.
Recolheram ainda sangue de morcegos frugívoros egípcios que vivem no Instituto Friedrich Loeffler, um centro de investigação de doenças animais. Por último, obtiveram sangue de um registo de sangue humano. No total, os autores do estudo reuniram mais de meio milhão de glóbulos vermelhos entre as três espécies.
Colocaram, depois, os glóbulos brancos da três espécies em contacto com diferentes temperaturas. À medida que o frio aumentava, tanto os glóbulos vermelhos dos morcegos como os dos humanos tornavam-se mais espessos e rígidos, mas apenas os glóbulos vermelhos dos morcegos se tornavam significativamente mais espessos em relação à sua rigidez.
“Tanto quanto sei, nunca houve uma comparação tão pormenorizada entre os glóbulos vermelhos humanos e os dos morcegos”, conta Kerth.
Ao contrário do que aconteceu com os glóbulos dos morcegos, o rácio entre a espessura e a rigidez dos glóbulos vermelhos humanos manteve-se.
Os autores do estudo colocam, agora, a hipótese de estas células de morcego mais resistentes proporcionarem um grande benefício: ao permanecerem nos capilares pulmonares e nos músculos durante mais tempo a baixas temperaturas, as células modificadas podem aumentar a absorção e distribuição de oxigénio por todo o corpo.
Estas descobertas constituem “uma das muitas peças do puzzle no caminho para o torpor nos humanos”, diz o biólogo molecular que investiga medicina espacial Marcus Krüger, mas “muitas questões importantes continuam sem resposta, nomeadamente como induzir a hibernação nos seres humanos. É algo que podemos fazer através da acumulação de gordura, privação de alimentos, apoio farmacológico?”.
Há outros obstáculos que são necessários de superar para chegar a Marte, como é o caso dos mantimentos: seriam necessários cerca de 70 vaivéns para transportar a comida e o combustível necessários para manter as pessoas vivas na viagem de ida e volta a Marte.
Apesar de tudo isto, Mikkael A. Sekeres, hematologista da Universidade de Miami, diz que este estudo dá um grande passo em frente no que diz respeito à possibilidade de hibernação humana.
Diz que a investigação “tem implicações no facto de os humanos poderem entrar num estado de torpor por períodos prolongados — com a esperança de um resultado melhor do que o dos astronautas infelizes da série de filmes Alien”.
Pronto, pode até ser mais outra teoria para a Covid