Cientistas do Imperial College London afirmam que o material orgânico encontrado em rochas de asteróides recolhidas durante a missão japonesa Hayabusa 2 só prova que os micróbios terrestres podem prosperar em material extraterrestre, e não que a vida extraterrestre tenha finalmente aterrado.
Durante décadas, os astrobiólogos têm debatido se as amostras orgânicas encontradas em rochas espaciais são provas de vida extraterrestre ou apenas contaminação da vida indígena na Terra.
Num novo estudo, recentemente publicado na revista Meteoritics & Planetary Science, uma equipa de investigadores do Imperial College London provou que uma amostra recentemente trazida do asteroide 162173 Ryugu pela missão Hayabusa 2 não é a prova cabal da existência de ETs.
A Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial, JAXA, surgiu em 2003 da fusão de três entidades anteriores. A sua missão Hayabusa 2 foi lançada a 3 de dezembro de 2014, e intercetou o asteroide 162173 Ryugu a 27 de junho de 2018.
Durante um ano e meio, a sonda examinou e recolheu amostras do asteroide antes de ejetar a Sample Return Capsule, que aterrou em segurança na Terra a 5 de dezembro de 2020. Entretanto, a Hayabusa 2 continuou a sua missão de observação de asteróides.
A JAXA escolheu como alvo o 162173 Ryugu em busca de pistas sobre a origem da vida. Sendo um asteroide carbonáceo, continha potencialmente minerais, gelo e compostos orgânicos que se encontravam entre os mais primitivos do universo.
Para além de fornecer informações sobre as origens dos planetas, a JAXA esperava que o 162173 Ryugu lhes fornecesse informações importantes sobre a origem da água e da vida na Terra.
A evidência de micróbios no asteroide teria sido revolucionária, na medida em que confirmaria finalmente a existência de formas de vida simples vindas do espaço, mas também porque poderia fornecer provas cruciais para a controversa hipótese da panspermia, explica a DeBrief.
Panspermia
A panspermia é a teoria segundo a qual a vida existe noutros lugares e chegou potencialmente à Terra através de contaminação não intencional ou dirigida por formas de vida extraterrestres.
Tal acontecimento pode incluir tudo, de um micro-organismo que apanha boleia num meteoroide até extraterrestres que introduzem intencionalmente vida num planeta, como retratado no filme Prometheus da saga Alien.
O conceito é amplamente plausível, mas a maioria dos cientistas é cética. A ideia não explica como a vida surgiu; simplesmente muda a história das suas origens.
Os biólogos nunca descobriram provas diretas que apontem para um cenário em que a vida não tenha surgido na Terra.
A plataforma EXPOSE-R-2 da Agência Espacial Europeia (ESA) demonstrou que alguns dos extremófilos da Terra, organismos que se desenvolvem em ambientes difíceis, podem sobreviver em condições espaciais adversas, dando algum peso à ideia para os proponentes da panspermia.
Vida microbiana no Ryugu
A equipa do Imperial College foi um dos vários grupos a receber um pedaço da preciosa amostra 162173 Ryugu.
Os responsáveis pelo manuseamento da amostra seguiram meticulosamente procedimentos rigorosos de transporte e contenção, envolvendo recipientes hermeticamente fechados e armazenamento de nitrogénio.
No Museu Nacional de História de Londres, os cientistas fizeram análises de raios X das amostras e outras análises com um microscópio eletrónico.
Ao estudar este exame, os cientistas encontraram algo extraordinário: filamentos e hastes que sugerem a presença de vida microbiana.
“Quando olhámos pela primeira vez para a amostra, ficámos entusiasmados ao ver que havia pequenos bastonetes e filamentos de matéria orgânica presentes na superfície”, explica Matthew Genge, investigador do ICL e autor principal do estudo, num comunicado da instituição.,
“Eram estruturas minúsculas, com cerca de um milionésimo de metro de largura – como micróbios!“, salienta o investigador.
No decorrer do estudo, as formas de vida microscópicas começaram a espalhar-se e a tomar conta da rocha, durante 19 dias, até que a população acabou por diminuir.
Este pico, seguido de uma expansão excessiva e de um declínio, indicou que os cientistas tinham observado um organismo terrestre a colonizar o material orgânico numa rocha extraterrestre, em vez de um organismo adormecido a voltar à vida.
Devido a complicações com o pequeno número de bactérias na rocha e aos procedimentos a que a amostra foi submetida para a proteger, a equipa não tentou remover quaisquer organismos para estudo direto.
Na falta de identificação do ADN do microrganismo, a melhor hipótese da equipa era que se tratava de uma variedade de Bacillus, muito comum na Terra e conhecido por colonizar agressivamente novos ambientes.
Após uma repoluição com etanodiol, a equipa não deteou mais filamentos na amostra. Em última análise, a observação mostrou as vulnerabilidades dos procedimentos de confinamento, em vez de fornecer provas de panspermia.
“Estas descobertas sugerem que o que encontrámos foram micróbios terrestres que encontraram um novo lar numa rocha extraterrestre cheia de materiais orgânicos de que podiam tirar partido. O Ryugu foi literalmente um ‘petisco do espaço’ para os micróbios da Terra”, concluiu Genge.