A nova criatura misteriosa foi encontrada em água abertas por um grupo de cientistas. Já tem nome e imagens (e brilha no escuro).
“O aspeto mais excitante desta descoberta“, disse o cientista marinho do Monterey Bay Aquarium Research Institute (MBARI) dos EUA, que encontrou a espécie, Bruce Robison ao ScienceAlert, “é o facto de termos conseguido fazer a descrição inicial mais completa de uma nova espécie de mar profundo alguma vez apresentada (anatomia, respiração, bioluminescência, reprodução, alimentação, genética, comportamento).”
Bathydevius caudactylus é o primeiro “nudibrânquio” conhecido do seu género: não vive em águas pouco profundas, nem no fundo do mar, mas a mais de 2200 metros abaixo da superfície do Oceano Pacífico, na zona batipelágica, em águas abertas, explica o estudo, que só será publicado em dezembro deste ano na Science Direct.
“A maioria dos nudibrânquios vive no fundo, em águas pouco profundas, por isso foi muito surpreendente encontrar um nudibrânquio tão profundo na coluna de água e longe do fundo”, conta o cientista. “Conhecíamos algumas espécies que vivem no fundo do mar, mas nenhuma tinha sido registada em águas profundas”.
Encontraram-no por acaso, enquanto pilotavam o veículo de investigação operado remotamente Tiburon a uma profundidade de 2.614 metros. “Ficámos encantados com a visão”, conta o investigador, que diz que a equipa apelidou o ser vivo de “molusco misterioso”.
Este é o estudo mais completo de uma nova espécie de mar profundo realizado até à data.
No total, a equipa de cientistas encontrou 157 indivíduos da espécie durante a investigação levada a cabo entre 2000 e 2021, 32 dos quais foram estudados em pormenor e 18 foram recolhidos para estudo posterior em laboratório
A criatura é hermafrodita, e tem um pé semelhante ao da lesma do mar, mas também um grande capuz aberto, e uma cauda com franjas, que “parecem dedos a ondular na corrente”, descreve a Science Alert. Através da pele translúcida do corpo do molusco, podiam ver-se os órgãos internos da roseta. E, quando o ROV se aproximou e a criatura se sentiu ameaçada, iluminou-se com um brilho bioluminescente.
Mas o capuz não é um disfarce: é, acima de tudo, o que a criatura utiliza para caçar as presas. Segundo o estudo, o nudibrânquio alimenta-se essencialmente de crustáceos — que engole através da boa situada na parte de trás do capuz. Mas o Bathydevius caudactylus também pode comer outros nudibrânquios.
Foi também possível observar a estratégia reprodutiva do Bathydevius: a uma profundidade de 2.755 metros, dois indivíduos tinham-se ancoraram-se ao fundo do mar para pôr as suas fitas de ovos com folhos. Outros indivíduos foram vistos agarrados ao fundo do mar de forma semelhante.
“O Bathydevius é radicalmente diferente de todos os outros nudibrânquios porque está bem adaptado a viver num habitat muito diferente; a evolução ultrapassou os desafios da sobrevivência no local onde vive e está muito bem adaptado para ter sucesso nesse local”, disse Robison. “Isto diz-nos que a evolução dos nudibrânquios é muito mais flexível do que pensávamos”.