Recente evento de extinção em massa, afinal nunca aconteceu

Dawson White

Os investigadores afirmam que um recente evento de extinção em massa na América do Sul nunca aconteceu!

Segundo o Study Finds, durante 40 anos, acreditou-se que houve a extinção em massa de plantas numa floresta tropical nublada no Equador. Agora, uma equipa internacional de botânicos questiona se o evento realmente aconteceu, como dizem os registos históricos.

O estudo, liderado por Dawson M. White da Universidade de Harvard, desafia o conceito de “extinção centinelana” — a ideia de que a desflorestação pode causar a extinção imediata de espécies de plantas conhecidas apenas de um único local.

A história começa na década de 1980, quando os botânicos Calaway Dodson e Alwyn Gentry referiram que a cordilheira de Centinela, no oeste do Equador, albergava cerca de 90 espécies de plantas que não se encontravam em mais nenhum local da Terra.

Afirmaram também que estas plantas únicas tinham provavelmente sido extintas devido à desflorestação generalizada na zona.

Este cenário dramático, apelidado de “extinção centinelana“, tornou-se um conto de advertência na biologia da conservação, salientando o potencial de perda rápida de biodiversidade nas regiões tropicais.

White e os seus colegas descobriram que 99% das plantas supostamente extintas foram, na verdade, descobertas noutros locais. Apenas uma espécie, uma pequena orquídea, chamada Bifrenaria integrilabia, continua a ser conhecida apenas de Centinela.

É um milagre“, afirma White, investigador de pós-doutoramento no Departamento de Biologia Organísmica e Evolutiva de Harvard. “Muitas das plantas da Centinela ainda estão à beira da extinção, mas felizmente os relatos do seu desaparecimento foram exagerados. Ainda há tempo para as salvar e dar a volta a esta história”.

Esta descoberta não diminui a ameaça da desflorestação para a biodiversidade. O estudo, publicado na revista Nature Plants, revela que muitas destas plantas ainda são raras e estão em perigo de extinção, com mais de 150 espécies classificadas como globalmente ameaçadas.

O que mostra é a importância da exploração botânica contínua e a resiliência de algumas espécies de plantas face à perda de habitat.

“Compreender quais as plantas que crescem numa determinada floresta nublada dos Andes é uma tarefa monumental, porque se encontram, sem dúvida, novas espécies”, conclui White.

“O que a nossa investigação realça é que são necessárias décadas de trabalho de especialistas em taxonomia para descrever novas espécies nestas florestas. E só depois de termos nomes para estas espécies, que são depois anotados nas nossas redes científicas, é que podemos começar a compreender onde mais estas plantas crescem e o seu risco de extinção”.

Os investigadores também fizeram descobertas surpreendentes durante o seu trabalho de campo. Apesar dos relatos de desflorestação total, encontraram numerosos pequenos vestígios da floresta original e milhares de árvores adultas em pastagens e ravinas. Estas manchas, embora fragmentadas, continuam a albergar muitas das espécies raras de plantas que se pensava estarem extintas.

A equipa descobriu, pelo menos, oito novas espécies de plantas durante as suas recentes pesquisas. Este facto realça que mesmo as áreas tropicais bem estudadas podem continuar a produzir surpresas botânicas e enfatiza a necessidade de investigação contínua nestes hotspots de biodiversidade.

“Uma das nossas descobertas mais surpreendentes é uma espécie totalmente nova de árvore de copa da família do algodão”, diz Andrea Fernández, coautora do estudo, da Universidade Northwestern e do Jardim Botânico de Chicago. “É uma das árvores mais altas que encontrámos, mas é extremamente rara; pode haver apenas 15 indivíduos vivos em Centinela. Está agora a ser ativamente visada por madeireiros locais, pelo que nos apressamos a descrever esta nova espécie de árvore e a fazer crescer as suas sementes em jardins botânicos”.

O caso de Centinela serve como um poderoso lembrete das complexidades envolvidas na compreensão e conservação da biodiversidade. Sublinha o valor de investigações científicas persistentes e o perigo de tirar conclusões precipitadas com base em dados limitados.

Embora a ameaça de extinção imediata possa ter sido exagerada, o estudo reforça a necessidade urgente de esforços de conservação nas florestas tropicais nubladas, que continuam gravemente ameaçadas pelas atividades humanas.

Esta investigação realça o papel fundamental dos herbários — coleções de espécimes de plantas preservadas — na investigação da biodiversidade. Ao permitir que os cientistas acompanhem a distribuição das plantas ao longo do tempo e do espaço, estas “bibliotecas da vida” fornecem dados inestimáveis para compreender e proteger a diversidade vegetal da Terra.

Os herbários fornecem-nos o “quê” e o “onde” fundamentais da biodiversidade vegetal”, observa o coautor Juan Guevara da Universidade de Las Américas. “Foram eles que tornaram possível a resolução deste mistério. São a base de tudo o que sabemos sobre as plantas que estão ameaçadas de extinção”.

“As plantas da costa do Equador e de muitos outros locais duramente atingidos nos trópicos estão a encontrar uma forma de se aguentarem nos últimos recantos e fendas”, conclui o coautor Nigel Pitman, do Museu Field de História Natural. “Não sobreviverão por muito tempo nestas condições, mas ainda temos tempo de agir antes que desapareçam para sempre.”

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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