Na época geológica designada por alguns como Antropoceno, os humanos são o asteroide. Cerca de 30% das espécies conhecidas encontram-se ameaçadas.
Investigadores avistaram pela última vez o minúsculo e magnífico sapo venenoso de cor vermelho-escuro nas húmidas florestas de planície do oeste do Panamá há cinco anos. Desde então, este pequeno anfíbio juntou-se a animais como o sapo de Wyoming e o corvo do Havai na crescente lista de espécies que desapareceram na natureza.
Cerca de 30% das espécies de plantas e animais catalogados pelos biólogos encontram-se ameaçadas de extinção, devido a riscos como a escassez de alimentos causada pela destruição dos seus habitats pelos humanos, envenenamento com pesticidas ou pela caça para lucro ou diversão.
A última vez que a Terra enfrentou uma extinção em massa da flora e da fauna tão rápida foi há 66 milhões de anos, quando um meteoro gigante atingiu o planeta. O impacto terminou com a era dos dinossauros e eliminou 75% de todas as espécies da Terra.
Na época geológica referida por alguns como Antropoceno, os humanos são o asteroide. A taxa anual de extinção natural é de dez a 100 espécies por ano. A atividade humana aumenta esse número para cerca de 27 mil por ano. Só a desflorestação da Amazónia, reserva de biodiversidade que acolhe entre 15% a 20% da flora e fauna de todo o planeta, poderia resultar no desaparecimento de 10 mil espécies no Brasil.
Anfíbios, insetos, répteis e peixes desaparecem a um ritmo cada vez maior. A extinção de espécies leva a que os ecossistemas percam estabilidade e, eventualmente, entrem em colapso, o que gera graves consequências para os humanos. A redução dos polinizadores, por exemplo, diminuiu a produção de frutas, vegetais e frutos secos, enquanto o decréscimo das populações de animais e peixes significa a perda de fontes de proteínas.
Medidas de conservação, legislação ambiental, criadouros e reservas naturais ajudaram a reverter o declínio de algumas espécies. Mas esta recuperação não é suficiente para compensar os acelerados índices globais de extinção, com cada vez mais espécies ameaçadas.
Morte de animais em criadouros
As medidas de conservação podem falhar se a abordagem não for adequada. Um exemplo é o lémure de Madagáscar. Um estudo de 2019 encontrou 87 indivíduos, afirmou Edward Louis, diretor da ONG Madagascar Biodiversity Partnership. Ele dedicou 25 anos da sua vida à conservação destes primatas de olhos esbugalhados.
As tentativas de capturar e reproduzir estes animais simplesmente não funcionaram, contou Louis. “Quando os retiramos da natureza, a sua flora bacteriana altera-se, e eles, infelizmente, morrem após oito ou dez dias.”
O principal problema para o lémure é a destruição da floresta, o seu habitat natural, pela população local que necessita de carvão para cozinhar. É por isso que os conservadores tentam atualmente encontrar uma fonte alternativa de combustível para atrair os residentes locais para a proteção do habitat destes animais.
A aceitação local é crucial para o sucesso da conservação, afirma Magnus J.K. Wessel, do grupo ambientalista alemão Bund. “Em locais onde as pessoas valorizam as espécies animais para a sua auto-identificação, assim como da sua região, e beneficiam financeiramente disso, as coisas mudam”, disse Wessel. “Isso é evidente com os tigres nos parques nacionais da Índia, apesar de serem animais muito perigosos”.
Poucas pessoas experienciam pessoalmente as consequências da extinção de uma espécie. Por isso, é fundamental divulgar estas informações. Segundo Wessel, os animais de grande porte e carismáticos, como rinocerontes e tigres, bem como os pequenos e peludos, podem ajudar a conquistar o público.
“Os excêntricos também funcionam”, afirmou. “Existe uma vasta comunidade de fãs do rato-toupeira-pelado que, certamente, não é um animal belo.”
Mas este roedor é uma exceção. Segundo Wesel, os humanos tendem a não gostar de animais rastejantes. Assim, a única maneira de proteger estes animais é criando reservas para as espécies mais carismáticas.
Este tipo de conservação é dispendioso, o que é problemático, visto que nem todos os países priorizam a proteção ambiental, e os que o fazem, geralmente dedicam no máximo 1% ou 1,5% dos seus Produtos Internos Brutos (PIB) à causa.
Os países europeus são os que mais investem, seguidos das nações da Ásia e América do Sul. Em África, o Senegal é o que mais investe em proteção ambiental, dedicando 0,5% do seu PIB.
Mesmo os países que mais investem na preservação enfrentam a extinção de espécies. Desde 1990, a proporção de espécies ameaçadas aumentou drasticamente na Malásia, Uganda e Tanzânia, que gastam comparativamente pouco em proteção ambiental, da mesma forma que também aumentou na França, China e Nova Zelândia, que estão entre os maiores investidores.
Métodos de proteção
A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) procura analisar quando a proteção ambiental compensa, utilizando um tipo de escala. Este método prevê o potencial de uma espécie de se recuperar com ou sem os esforços de conservação, bem como o tamanho máximo das populações de cada espécie.
O grou-azul, do sul do continente africano, é uma das espécies que poderia beneficiar-se de uma intervenção. Durante a próxima década, a população deste animal poderia recuperar-se quase totalmente na natureza.
Mas para o lémure-saltador-do-norte, espécie que Edward Louis tenta salvar, as notícias não são muito boas. As populações podem recuperar-se até dez anos se houver esforços de reflorestação. Atualmente, porém, estes animais estão à beira da extinção.
Louis trabalha com uma empresa em Madagáscar para produzir lenha de eucaliptos, que crescem rapidamente, como alternativa ao carvão vegetal feito da vegetação local. Até agora, a população não aderiu à alternativa.
“Eles não parecem querer os eucaliptos”, disse Louis. “Pelo contrário, preferem usar as árvores nativas.” O aroma do eucalipto é absorvido pelo arroz durante o cozimento. Ainda assim, Louis continua a fazer tudo o que pode para salvar os lémures.
Querem espalhar eucaliptos por Madagáscar? Não sabem que essas árvores consomem muita água e ardem muito facilmente? Se calhar os nativos malgaxes é que têm razão.