Um novo estudo sugere que um parque solar no deserto com 11 vezes o tamanho de Portugal poderia ajudar a combater a escassez de água, indiretamente, evitando emissões de gases com efeito de estufa) e diretamente — literalmente fazendo chover. Mas causaria secas na Amazónia.
O problema global da escassez de água, que afeta mais de dois mil milhões de pessoas em todo o mundo, é agravado pelas alterações climáticas através do aumento de secas e temperaturas mais altas.
Um estudo inovador introduz agora a ideia de que grandes parques solares poderiam mitigar a escassez de água tanto indiretamente, pela redução de emissões de gases com efeito de estufa, como mesmo diretamente, gerando precipitação.
Esta abordagem inovadora aproveita a chamada precipitação convectiva, um processo natural onde o calor do sol causa a evaporação da água, e o ar húmido resultante sobe, arrefece e condensa em gotículas de chuva.
Os autores do estudo, publicado em janeiro na Earth System Dynamics, sugerem que ao criar artificialmente “ilhas de calor” através de parques solares, como no efeito de calor urbano observado nas cidades, estas instalações poderiam induzir chuva em regiões áridas, gerando simultaneamente energia limpa.
Um estudo anterior, publicado em 2020 na Geophysical Research Letters, tinha já estimado que a instalação de um parque solar massivo no Deserto do Saara poderia não só aumentar a precipitação local como fornecer energia ao Mundo inteiro.
Contudo, salienta o Free Think, esta abordagem inovadora tem o potencial problema de poder perturbar os padrões climáticos globais, podendo mesmo causar secas na Floresta Amazónica, devido ao monumental tamanho que tal parque solar teria que ter — quase 11 vezes o tamanho de Portugal.
Esta abordagem levanta assim questões sobre o equilíbrio entre a modificação benéfica do clima local e os impactos globais adversos.
Entretanto, os Emirados Árabes Unidos (EAU) estão desde os anos 1990 na frente da corrida aos métodos alternativos para fazer chover. Entre outras abordagens, experimentaram “semear chuva” com aviões que injetam partículas nas nuvens para induzir precipitação — uma técnica testada pela China em 2018.
O estudo de 2020, financiado pelos EAU explorou também a possibilidade de usar “superfícies negras artificiais” (ABS), como painéis solares, para aumentar a precipitação.
Os autores do estudo sugerem parques solares de apenas 20 a 50 km2 poderiam aumentar significativamente a precipitação, potencialmente fornecendo anualmente água suficiente para milhares de pessoas.
Esta abordagem, embora promissora, enfrenta desafios. Este tipo de painéis solares precisariam de modificações para alcançar a cor escura ideal e a taxa de absorção de luz solar com máxima eficácia.
Além disso, o sucesso na indução de chuva através deste método pode depender de condições meteorológicas específicas, indicando a necessidade de planeamento cuidadoso e consideração dos climas locais.
No entanto, é cada vez mais claro que a ideia de aproveitar a energia solar não apenas para produzir eletricidade limpa, mas também para criar chuva em regiões secas, está a um passo de sair do campo da ficção científica — e tornar-se realidade.