Olhando para o passado recente, vemos que os nomes essenciais para Governos do PSD foram… Guterres e Sócrates.
Domingo à noite, 16 de Dezembro de 2001. Ou melhor, já era madrugada de segunda-feira, dia 17.
Quem ainda estava acordado é surpreendido pelas palavras de António Guterres: “Pedirei ao senhor presidente da República que me receba para lhe apresentar o meu pedido de demissão das funções do primeiro-ministro”.
Foi esta a postura de Guterres, poucas horas depois de se saber que o PS tinha sido derrotado nas eleições autárquicas desse dia.
Uma derrota em larga escala: 142 Câmaras Municipais para o PSD, 113 para o PS. Os socialistas perderam Lisboa, Porto, Sintra, Bragança, Vila Real, Viseu, Coimbra, Leiria, Setúbal, Portalegre ou Faro, entre muitas outras.
Olhando para esses números, e olhando para um segundo mandato (desde 1999) mais atribulado do que queria – com o amigo Daniel Campelo do “caso queijo Limiano”, com saídas dos ministros Fernando Gomes, Armando Vara e Jorge Coelho e com duas remodelações em apenas quatro meses – Guterres decidiu deixar a liderança do país.
Soube-se mais tarde que diversas figuras do PS tentaram convencê-lo a continuar como primeiro-ministro: Almeida Santos, o próprio Jorge Coelho, Ferro Rodrigues, até Mário Soares ou… António Costa. Ninguém conseguiu. José Maria Aznar, na altura primeiro-ministro de Espanha, também telefonou; sem sucesso.
Com nomes fortes do PS ao seu lado – Almeida Santos, Jorge Coelho, Ferro Rodrigues ou António Vitorino – António Guterres fala aos portugueses numa conferência de imprensa tardia, mas histórica.
Disse que tinha noção da importância da estabilidade política mas era preciso olhar com “lucidez” para a realidade de Portugal. E, nessa realidade, que incluía uma crise económica mundial, era preciso haver “confiança” entre Governo e população. É algo “indispensável”, reforçou.
“Se nada fizesse, se passasse ao lado destas eleições, continuando a ser primeiro-ministro, o país cairia inevitavelmente num pântano político“.
Para evitar esse “pântano político”, demitiu-se. Rejeitou uma eventual moção de confiança na Assembleia da República: “Não é a resposta ao problema do país”.
Uma década depois…
Numa fase diferente, com o FMI a caminho, José Sócrates tentou evitar o pedido de ajuda económica externa.
Apresentou aos deputados a quarta versão do Programa de Estabilidade e Crescimento. Mas o famoso PEC IV foi rejeitado pela oposição – que estava em maioria no Parlamento.
Sócrates tinha avisado que, se o PEC IV fosse rejeitado, iria demitir-se. E cumpriu.
23 de Março de 2011, à noite: “Apresentei agora mesmo a demissão do cargo de primeiro-ministro. Tenho consciência da seriedade desta decisão”.
José Sócrates lamentou a postura de uma oposição com “impaciência pelo poder”, que não apresentou alternativas e que, “de forma consciente”, retirou ao Governo socialista “todas as condições para continuar a governar”.
“O que se passou hoje na Assembleia da República não tem a ver comigo, não tem a ver com o Governo. Tem isso sim, a ver com o país – e hoje, estou convencido, o país perdeu, não ganhou”, continuou o então primeiro-ministro, que no mesmo discurso anunciou que iria ser novamente candidato nas eleições legislativas seguintes.
PSD aproveitou
Nos dois casos, o PSD venceu as respectivas eleições antecipadas.
Em Março de 2002, Durão Barroso foi eleito primeiro-ministro. Com apenas mais nove deputados do que o PS de Eduardo Ferro Rodrigues (105-96). O PSD formou coligação pós-eleitoral com o CDS-PP e conseguiu assim a maioria absoluta. Santana Lopes seria o sucessor de Durão, depois da sua saída para ser presidente da Comissão Europeia.
Em Junho de 2011, Pedro Passos Coelho passou a ser primeiro-ministro. Com margem bem maior para o PS de Sócrates (108-74), mas novamente sem maioria absoluta – e novamente com coligação posterior com o CDS-PP.
No século XXI, esses foram os únicos dois momentos em que o primeiro-ministro de Portugal foi alguém do PSD.
Indo um pouco mais além, nos últimos 28 anos (desde a saída de Cavaco Silva em Outubro de 1995), o PSD só governou o país quando um primeiro-ministro do PS se demitiu.
António Costa demite-se em 2023. Luís Montenegro estará confiante para o dia 10 de Março.
E mesmo nessas alturas o PSD só empobreceu o país, até as reformas miseráveis eles cortaram, estamos entregues à bicharada.