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A bomba-relógio das tarifas de Trump ameaça o comércio transatlântico

Gage Skidmore / Flickr

O presidente dos EUA, Donald Trump

Os dois blocos estão há cinco anos a negociar um acordo para a venda de aço e alumínio europeus aos Estados Unidos, mas ainda não chegaram a acordo.

Bruxelas e Washington continuam sem se entender sobre as tarifas impostas por Donald Trump ao aço e alumínio comprados à Europa. Cinco anos depois, o impasse não dá sinais de acabar e o prazo para um acordo termina já em Outubro.

Em causa estão tarifas de 6,4 mil milhões de euros que a administração Trump impôs em 2018 com o argumento de que estava em causa a segurança nacional. Sem um acordo, ambos os blocos podem voltar a impor enormes tarifas sobre os bens que trocam entre si, com esta guerra comercial a estender-se além do aço e do ilumínio e a incluir outros produtos importantes para as economias dos países envolvidos.

Os EUA querem impor tarifas sobre produtos importados de aço ou alumínio, que aumentariam progressivamente de acordo com a poluição emitida pela produção. Esta regra seria também aplicada a outros países fora da UE e as nações que entrassem no acordo beneficiariam de tarifas mais baixas ou até inexistentes.

Mas a União Europeia não concorda e defende que não devem ser aplicadas quaisquer tarifas, receando ainda que este acordo pudesse violar as regras da Organização Mundial do Comércio.

Do lado norte-americano, ainda há esperança de que se consiga chegar a um acordo, especialmente devido ao impacto que uma guerra comercial teria nas esperanças de reeleição de Biden, nas vésperas das presidenciais de 2024.

A questão das tarifas seria também mais uma dor de cabeça a juntar ao actual choque entre os EUA e a União Europeia sobre os subsídios que Biden está a dar às indústrias americanas, no âmbito do mega-pacote de combate à inflação e às alterações climáticas.

Um responsável da Casa Branca também rejeita os receios da UE e considera que as tarifas são “uma ferramenta muito poderosa” que deve ser usada para incentivar o mercado a “reduzir as emissões de carbono” e também para equilibrar as balanças entre o países mais e menos poluidores.

Do lado da UE, há menos optimismo. “As posições de início estão muito distantes. As cedências enormes que teriam de ser feitas não são politicamente realistas neste prazo”, revela um responsável europeu ao Politico.

Um dos objectivos não assumidos dos EUA, segundo Bruxelas, será apertar com a China, cuja produção de aço ainda é feita à base de carvão e contraria a tendência de produção mais amiga do ambiente em que os países ocidentais têm apostado.

Este acordo será então uma táctica de Washington para pressionar a UE a ter uma posição mais dura e hostil contra Pequim. “A linguagem parece estar escrita para atacar um país especificamente“, refere outro responsável europeu.

Outra preocupação europeia é que os Estados Unidos não rejeitam a possibilidade de as tarifas voltarem a ser impostas, apesar de a Organização Mundial do Comércio as ter declarado ilegais.

Por sua vez, a administração Biden garante que o regresso das tarifas “não tem feito parte da discussão” e considera que a proposta europeia é pouco ambiciosa e não responde ao “problema fundamental”.

“A nossa preocupação é que a proposta da União Europeia não muda a verdadeira dinâmica do comércio”, responde um responsável americano.

Já foi agendada uma cimeira para as vésperas de Outubro que provavelmente será a última oportunidade para as partes chegarem a acordo.

Adriana Peixoto, ZAP //

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