A falta de rede móvel na serra do Alvão, no concelho de Vila Real, está a ser um obstáculo à implementação do projeto que usa dispositivos GPS no pescoço das vacas maronesas, para auxiliar o pastoreio, obrigando à colocação de aparelhos retransmissores.
O projeto Life Maronesa distribuiu 35 equipamentos GPS para ajudar os criadores no pastoreio do gado na Serra do Alvão, no concelho de Vila Real. O objetivo era facilitar a localização dos animais que percorrem a serra livremente.
Só que a zona “acabou a revelar-se não preparada com a infraestrutura de telecomunicações para receber esta tecnologia”, como revela à Lusa o engenheiro informático Avelino Rego que integra o projeto e que é também produtor de vaca maronesa.
Outro criador de vacas, Heitor Fernandes, reconhece que retirou as duas coleiras GPS dos seus animais que traz separados em dois grupos pelo Alvão.
“Não tem rede, não apanha, então não andava lá a fazer nada no pescoço delas”, justifica o produtor que destaca as vantagens do GPS já que, assim, saberia “onde elas estavam e ia lá direto”, em vez de “andar à procura” pela serra.
O criador diz que, em Lamas de Olo, só se apanha rede de uma operadora e não é em todos os lados. “É preciso procurar na serra um alto e as vacas não procuram”, brinca.
A agência Lusa acompanhou os promotores do Life Maronesa na colocação de um retransmissor que quer ajudar a ultrapassar a dificuldade de rede na aldeia de Lamas de Olo, em pleno Parque Natural do Alvão.
“Imensas zonas sombra” onde o GPS não funciona
Entre Lamas de Olo, Alvadia, Bilhó, Souto e Outeiro são cerca de 10 mil hectares de área e há à volta de mil vacas.
No entanto, segundo Avelino Rego, há “imensas zonas sombra” pelo que o GPS não consegue sinal suficiente para comunicar a sua localização, levando a que o dispositivo esteja várias horas ‘offline’, não permitindo que os criadores acompanhem o movimento do gado.
“Estes dispositivos comunicam a sua localização através da infraestrutura de telecomunicações GSM que, aqui na serra do Alvão, não funciona. Em alternativa estamos a trocar os aparelhos de GSM para sigFox e estamos a adquirir à nossa conta os retransmissores para colocar aqui na serra”, salienta o engenheiro informático.
No total, refere, vão ser colocados cinco retransmissores.
Projeto de 2 milhões de euros
O Life Maronesa é um projeto de dois milhões de euros, metade dos quais financiados pela União Europeia, que alocou 15 mil euros à rubrica de equipamentos GPS.
É coordenado pela Associação Aguiar – Floresta de Vila Pouca de Aguiar e integra vários parceiros técnicos e científicos, incluindo o Instituto Politécnico de Bragança, bem como grupos de Baldios dos concelhos de Vila Real, Vila Pouca de Aguiar, Mondim de Basto e Ribeira de Pena.
“Para os retransmissores foi uma ginástica financeira que tivemos que fazer para encontrar financiamento para conseguir aportar este imprevisto”, salienta Avelino Rego.
O problema da falta de rede “é recorrente”, mas “não há soluções definitivas para este território”, acrescenta.
“Vamos tendo cobertura que funciona neste lugar ou naquele. Aqui onde estamos tem cobertura da Meo apenas, mas nós agora não podemos dizer que nos vamos relacionar apenas com pessoas da Meo ou as pessoas que nos visitam não têm que saber que este território só é servido por uma operadora”, refere também.
É preciso um “roaming rural nacional”
Nestas zonas de montanha pode não ser viável ter todas as operadoras, assume o engenheiro informático. E, por isso, defende a criação de “uma espécie de ‘roaming’ rural nacional” para, “de uma vez por todas, haver uma boa infraestrutura de telecomunicações” nas aldeias.
“Uma operadora ao colocar o seu retransmissor ele iria funcionar para todas as operadores existentes. Não é suficiente uma aldeia ser servida apenas por uma operadora”, aponta Avelino Rego.
Este ‘roaming’ funcionaria à semelhança do que acontece com os telemóveis nacionais quando estão no estrangeiro e, desta forma, haveria cobertura de rede, defende.
Para concretizar esta ideia teria de haver uma concertação entre as operadoras e a Anacom, o regulador do setor das comunicações, diz ainda.
O Life Maronesa é um projeto que está a ser implementado na serra do Alvão e quer ajudar a combater as alterações climáticas, reduzir o risco de incêndio, quantificar a produção de biomassa nas pastagens e os efeitos do pastoreio.
ZAP // Lusa
2 milhões de € …………… está tudo explicado !