Rússia encomendou 2000 “drones kamikazes” iranianos, diz Zelenskyy

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Sergey Dolzhenko / EPA

Volodymyr Zelenskyy

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, afirmou na segunda-feira que a Rússia encomendou “cerca de 2.000 drones” iranianos para apoiar a sua campanha de bombardeamentos na Ucrânia, que tem sobretudo como alvos infraestruturas elétricas.

“Segundo os nossos serviços de informações, a Rússia encomendou cerca de 2.000 Shaheds iranianos”, drones kamikazes, para apoiar a sua invasão da Ucrânia, após vários reveses militares no terreno desde o início de setembro, declarou Zelenskyy, numa conferência organizada pelo diário israelita Haaretz., citado pela agência Lusa.

O chefe de Estado ucraniano não precisou se tal número se refere a uma nova encomenda ou ao número total de drones iranianos comprados por Moscovo a Teerão, alguns dos quais foram já utilizados para atingir especialmente infraestruturas energéticas, segundo Kiev.

De acordo com Zelenskyy, “instrutores iranianos vieram para ensinar os russos a utilizarem esses drones” antes de estes os enviarem para a Ucrânia, acrescentou.

O chefe da administração militar regional de Mykolaiv, Vitaliy Kim, declarou na segunda-feira na televisão que as tropas russas utilizaram pela primeira vez drones kamikazes “Shahed-136”, de fabrico iraniano, na linha da frente do sul da Ucrânia – e não só contra infraestruturas civis.

Na segunda-feira, ocorreram dois ataques com drones Shahed sobre a aldeia de Shevchenkove – esta é a primeira utilização na linha da frente, e não nos ataques terroristas às infraestruturas civis por parte dos russos”, frisou.

“Ao que parece, decidiram que não estavam a conseguir chegar a lado nenhum e começaram a utilizá-los ao longo da linha da frente”, disse Kim, em declarações recolhidas pela agência Unian.

Entretanto, o chefe da Direção Principal de Informações do Ministério de Defesa ucraniano, Kyrylo Budanov, afirmou que algumas reservas de mísseis russos estão quase esgotadas, mas que “o terrorismo com o uso de Shaheds pode durar realmente muito tempo”.

Ao Ukrainska Pravda, o responsável indicou que os drones de todo o tipo que a Rússia encomendou ainda têm de ser fabricados, precisando que cada lote tem cerca de 300 unidades e que atualmente os russos estão a utilizar o segundo lote.

Acrescentou que, até 22 de outubro, os russos utilizaram cerca de 330 “Shahed”, dos quais 222 – aproximadamente 70% – foram derrubados pelas forças ucranianas. No entanto, “outros, de uma forma ou de outra, atingiram os seus alvos” ou caíram num local próximo, “mas cerca de 30% dos drones alcançaram os seus objetivos”, vincou.

No que diz respeito às reservas russas de mísseis, disse que, no caso dos Iskander, restam cerca de 13%; no dos Kalibr-PL e Kalibr-NK, à volta de 43%; e no dos J-101 e J-555, cerca de 45%.

“É muito perigoso ficar abaixo dos 30%”, o que se considera já uma reserva de emergência, precisou o responsável dos serviços secretos ucranianos.

Há já algum tempo que a situação em relação aos Iskander é crítica, ao passo que quanto aos Kalibr e J-101 e J-555, os russos “continuam a tentar manter-se de alguma forma dentro das suas normas”, acrescentou.

Medvedev: produção de armamento a aumentar

O antigo Presidente russo e aliado de Vladimir Putin, Dmitri Medvedev, garantiu na segunda-feira que a produção de armamento na Rússia “está a aumentar”.

No Telegram, o vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia disse que visitou as infraestruturas de produção de tanques e avisou os ucranianos para “não terem esperança”. “A produção de armas e equipamentos especiais está a multiplicar-se, desde tanques e canhões a mísseis de alta precisão e drones”, afirmou.

Medvedev acrescentou que foram garantidas as condições para que não fossem registadas novas interrupções no fornecimento de material bélico e explicou que “a conformidade continuará a ser monitorada”.

Nos últimos dias, a Ucrânia e os aliados da NATO acusaram a Rússia de recorrer ao uso de drones iranianos para atacar infraestruturas civis e de energia, com as imagens destes instrumentos de fabrico iraniano a serem partilhadas por governantes.

Tanto o Irão como a Coreia do Norte continuam a negar negócios de venda de armas com o Kremlin.

Rússia está a perder influência

No mesmo dia, no seu discurso habitual, Zelenskyy sublinhou as conquistas das forças ucranianas frente aos russos, lembrando que ainda há um “caminho a percorrer até à vitória”.

“A Ucrânia está a quebrar o chamado ‘segundo exército do mundo’ e a partir de agora a Rússia será apenas um pedinte. Estão a implorar algo no Irão, a tentar arrancar algo dos países europeus, a inventar coisas absurdas sobre a Ucrânia, a intimidar, a enganar”, afirmou.

Adiantou que as tropas ucranianas continuam a libertar o território “passo a passo”, mostrando-se confiante de que também a região de Zaporíjia e a península da Crimeia serão recuperadas.

O líder ucraniano disse ainda que a Rússia está a perder poder com a invasão. “Havia a influência do gás, não mais. Havia a influência militar, está a evaporar-se. Havia o peso político, agora há uma isolação crescente. Havia uma ambição ideológica, agora só há nojo”.

“A Rússia nunca mais será um sujeito que pode ditar algo sobre alguém. Já não tem o potencial para o fazer. O mundo vê isso. O potencial russo está a ser desperdiçado nesta loucura, numa guerra contra o nosso Estado e contra todo o mundo livre”, continuou o chefe de Estado ucraniano.

Entretanto, num comunicado publicado esta terça-feira, as forças armadas da Ucrânia dizem já ter causado 68.420 baixas nas forças russas desde o início da guerra.

Além disso, terá destruído 2.611 tanques, 5.321 veículos blindados, 1.674 sistemas de artilharia, 377 sistemas de lançamento de rockets, 190 sistemas anti-aéreos, 271 aviões, 248 helicópteros, 1.372 drones, 350 mísseis de cruzeiro, 16 navios de guerra, 4.054 viaturas e tanques de combustível e 149 equipamentos especiais.

Moscovo fez 85 ataques a instalações elétricas

A Rússia lançou 85 ataques contra instalações elétricas ucranianas desde o início da guerra, com 51 a registarem-se apenas no mês de outubro, adiantou na segunda-feira o procurador-geral da Ucrânia, Andrei Kostin, no Telegram.

“Esta é uma política de extermínio de ucranianos, criando condições inadequadas para a vida. À medida que o inverno se aproxima, os líderes russos deliberadamente privam as pessoas de coisas básicas: água, eletricidade ou aquecimento”, sublinhou.

O procurador-geral comparou a situação à condenação deliberada “à morte por fome” durante o “Holodomor”, considerando os atos atuais de Moscovo como “terrorismo e crimes de guerra”.

Uns sete milhões de ucranianos terão morrido depois de serem desapossados das suas terras pelo regime soviético de Joseph Estaline no chamado “Holodomor” (1932-1933).

Andrei Kostin salientou que a Rússia está a atacar infraestrutura crítica da Ucrânia com os seus ataques. “Desde o início da invasão em grande escala, as Forças Armadas da Federação Russa realizaram 85 ataques a instalações elétricas, 51 destes em outubro”, revelou a Procuradoria-Geral.

O maior número de ataques em instalações de infraestrutura crítica foram infligidos nas províncias de Dnipropetrovsk (8), Lviv (6), Vinnytsia (5), Sumy (4), Kharkiv (4) e Kiev (4).

O procurador-geral pediu ainda a criação de um tribunal internacional no âmbito da ONU. “A Rússia e os seus líderes devem ser julgados pelo crime de agressão, genocídio e crimes de guerra. A paz é impossível até que o mal seja punido”, destacou Kostin.

Inspetores internacionais vão visitar Ucrânia

A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) vai enviar inspetores à Ucrânia para visitar duas instalações nucleares do país, confirmou o organismo na noite de segunda-feira, após um convite do governo ucraniano. Segundo a agência, a visita deverá acontecer nos próximos dias.

Esse convite surgiu depois de Moscovo acusar a Ucrânia de se estar a preparar para usar uma “bomba suja” no próprio território com o objetivo de incriminar a Rússia.

Uma bomba suja é um dispositivo de dispersão radioativa – um dispositivo que usa explosivos tradicionais, como a dinamite, para espalhar material radioativo.

“A AIEA está ciente das declarações feitas pela Federação Russa no domingo a propósito de alegadas atividades em duas instalações nucleares na Ucrânia”, lê-se numa nota publicada no site da agência, indicando que ambas as instalações estão sob supervisão da AIEA e “têm sido regularmente visitadas por inspetores”.

“A AIEA inspecionou uma destas instalações há um mês e todas as nossas conclusões foram consistentes com as declarações de salvaguarda da Ucrânia”, disse Rafael Grossi , citado no comunicado. “Não foram lá encontradas atividades nem materiais nucleares não declarados”.

ZAP //

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2 Comments

    • Confirmem no dicionário: Foi para isto que se inventou a palavra “ignóbil”.
      Putin provou não ter dignidade para governar um país, menos ainda um com armas nucleares. Apenas sabe usar essas armas como ameaça para manter as suas acções bárbaras na mais vil impunidade. É a isso que aquela pobre alma chama “governar”.
      Se não fosse a Rússia ter a bomba, os locais em solo russo de onde partem os ataques há muito tinham sido espatifados como merecem, bem como depósitos de armamento e concentrações de forças em preparação para continuar a sua obra de destruição das cidades, casas, empregos, terras, famílias e vidas dum país inteiro.
      Só pasmo como é possível que certas pessoas (entre nós!!!!) consigam relativizar esta gigante. imensa monstruosidade, e nas suas mentes grotescamente deformadas, congeminar argumentações que desembocam em dizer que a culpa é … dos EUA!!!
      É triste. Muito triste. Faz doer a alma. Tenho sincera vergonha de viver perto de gente capaz de pensar assim.

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