Costa e Sánchez têm dois argumentos para “vender” gasoduto ibérico a Macron

John MacDougall / EPA

Olaf Scholz, Pedro Sánchez e António Costa.

Para convencer Emmanuel Macron a embarcar no projeto do gasoduto ibérico a passar pelos Pirinéus, Costa e Sánchez têm dois “novos argumentos”.

António Costa e Pedro Sánchez estiveram esta sexta-feira reunidos com o chanceler alemão para discutir a resposta à crise energética. Olaf Scholz é visto como um potencial aliado de Portugal e Espanha na missão de convencer França a permitir que um novo gasoduto ibérico atravesse os Pirenéus para fornecer gás ao resto da Europa.

“Temos trabalhado os três [Portugal, Espanha e Alemanha] para que a França se possa mostrar de novo aberta a esta solução”, disse o primeiro-ministro português, em Berlim, citado pelo Expresso. “Não vai querer seguramente estar isolada nesta posição que é comum”.

O problema é que, do outro lado, Portugal e Espanha tem encontrado uma forte resistência de Emmanuel Macron. O Presidente francês tem sido muito crítico da construção do chamado MidCat.

Paris invoca questões ambientais e questiona a necessidade de um novo gasoduto, quando o que existe atualmente com Espanha não é utilizado na máxima capacidade. Entretanto, Madrid já veio negar isto.

Há quem suspeite que os argumentos apresentados por França não passem de desculpas. Não havendo um gasoduto ibérico a atravessar os Pirinéus, França fica sem a concorrência de Portugal e Espanha para exportar eletricidade e gás para o resto da Europa.

António Costa acredita que existem agora dois “novos argumentos” que devem convencer o presidente francês, escreve a Renascença.

“A infraestrutura que pode servir para o gás, pode servir também para o hidrogénio verde e, até agora, parte importante da Europa, por exemplo aqui a Alemanha, era abastecida através da Rússia”, disse o chefe do Governo português. A ideia é a Europa não estar “tão dependentes de um só fornecedor”.

França não é, contudo, a última bolacha do pacote, sugere Costa. Embora seja a “solução natural”, não é a única. O primeiro-ministro português não descarta “outras soluções mais difíceis e mais caras”.

“A península ibérica tem, não só a capacidade de produzir energia renovável, e em particular o hidrogénio verde no futuro. Mas também pela sua posição geográfica ser um ponto de descarga de gás natural proveniente dos Estados Unidos, da costa africana, Trindade e Tobago”, recordou.

Uma rejeição “entremeada com sins”

O Presidente de França e os primeiros-ministros de Portugal e Espanha vão reunir-se dentro de “uns dias” em Paris para tentarem chegar a acordo sobre as interconexões energéticas.

“Verei, dentro de uns dias, em Paris, o primeiro-ministro Sánchez e o primeiro-ministro Costa, e vamos encontrar acordos muito pragmáticos a três, porque é assim que fazemos as coisas e as fazemos bem, à europeia”, afirmou o próprio Macron, na semana passada.

Costa apontou que a rejeição por parte de Emmanuel Macron ao projeto MidCat tem sido “entremeada com ‘sins'”, incluindo por escrito.

“Acho que é preciso persistir, além do mais porque o Presidente Macron que disse ‘não’ é o mesmo Presidente Macron que, em 2018, assinou em Lisboa uma declaração que previa quer o incremento das interconexões elétricas, quer o incremento das interconexões gasíferas”, disse, referindo-se à Cimeira das Interligações celebrada na capital portuguesa em 2018, com a participação de Costa, Macron e Sánchez.

Por outro lado, Olaf Scholz manifestou recentemente “apoio de forma explícita” a um novo gasoduto nos Pirenéus e afirmou não ter “a impressão” de o projeto estar excluído por parte de França.

O líder do Governo alemão defendeu que a construção do MidCat é um “elemento fundamental” para garantir o abastecimento energético dos países da UE mais dependentes de gás russo.

Scholz defendeu pela primeira vez, em agosto passado, a construção de um gasoduto pan-europeu, para ligar a Península Ibérica, desde Portugal, ao resto da Europa.

Daniel Costa, ZAP //

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