Os números não refletem a dimensão verdadeira do problema porque muitas denúncias vão diretamente para o Ministério Público. Os abandonos desceram após o inicio da pandemia.
Nos últimos cinco anos, foram abandonados à nascença ou nos primeiros seis meses de vida 43 bebés, avança o JN. O ano com mais casos de abandono foi 2019, tendo havido 22 situações denunciadas e 12 que foram comprovadas. Em 2017 e 2018 foram acompanhados oito e dez abandonos, respectivamente.
Após a pandemia, os números caíram. Em 2020, o número de bebés abandonados foi nove e em 2021 foi quatro, segundo os relatórios anuais das comissões de proteção de crianças e jovens.
No entanto, há muitos casos que são denunciados diretamente ao Ministério Público e que não constam dos dados das comissões, sendo a dimensão do problema maior do que os números mostram. Visto não ser um tipo de crime específico, também não há números da Procuradoria-Geral da República sobre o abandono de bebés.
Segundo Renata Benavente, vice-presidente da Ordem dos Psicólogos Portugueses, estes casos de abandono de bebés diferem das situações de maus-tratos, já que “não é um comportamento ativo para causar dano à criança”.
Os fatores que mais motivam estes abandonos são a pobreza, o consumo de substâncias aditivas, as gravidezes indesejadas, os pais estarem numa relação abusiva, a falta de apoio familiar ou problemas de saúde mental que geram surtos psicóticos.
“Muitas vezes, são pessoas que tiveram experiências de maus-tratos e abusos na sua própria infância. Há também mães que ocultam a gravidez e ninguém sabe que precisam de ajuda”, explica a psicóloga, que acrescenta que apesar do choque que causam na sociedade, estes casos de abandono têm de ser estudados já que “pode haver situações de inimputabilidade, em que a mãe não é ou está capaz de cuidar da criança”.