A inclinação do Supremo Tribunal para reverter a decisão judicial que protege o direito ao aborto está a fazer com que milhares de pessoas saiam à rua em protesto nos Estados Unidos. Os ativistas questionam agora as alternativas para quem necessita do procedimento, sendo que viajar internamente e além fronteiras pode ser a solução.
Um estudo do Guttmacher Institute revelou que 58% das mulheres norte-americanas em idade reprodutiva vivem em estados hostis ao aborto, pelo que são cerca de 40 milhões de pessoas que poderão vir a ser diretamente visadas por esta lei.
Desta forma, é provável que muitas mulheres viagem entre estados e além fronteiras para ter acesso ao procedimento.
Segundo o Expresso, os países vizinhos dos Estados Unidos já reagiram à notícia da alteração legislativa iminente.
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, recorreu ao Twitter para defender a legalização da interrupção voluntária da gravidez.
“O direito a escolher é um direito da mulher e da mulher apenas. Toda a mulher no Canadá tem o direito ao aborto legal e seguro. Nunca iremos recuar de proteger e promover os direitos das mulheres no Canadá e em todo o mundo”, escreveu Justin Trudeau.
The right to choose is a woman’s right and a woman’s right alone. Every woman in Canada has a right to a safe and legal abortion. We’ll never back down from protecting and promoting women’s rights in Canada and around the world.
— Justin Trudeau (@JustinTrudeau) May 3, 2022
A vice-primeira-ministra defendeu a mesma posição, durante uma intervenção no Parlamento. “O aborto é um direito fundamental. Tem sido uma prioridade para nosso governo apoiar os direitos reprodutivos de mulheres e meninas em todo o mundo. Continuaremos a fazê-lo com maior determinação do que nunca”, disse Chrystia Freeland.
Já a ministra canadiana das Famílias, Crianças e Desenvolvimento Social assumiu que o país está disponível para receber mulheres dos Estados unidos que necessitem de abortar.
“Não vejo por que não o faríamos. Se vierem aqui e precisarem de acesso, certamente esse é um serviço que seria prestado”, afirmou Karina Gould, em entrevista à CBC News.
Gould também alertou que a possível alteração na lei norte-americana terá impacto na população canadiana, nomeadamente em comunidades que vivam longe de grandes cidades e recorram aos serviços de saúde nos EUA.
No ano passado, o Supremo Tribunal do México decidiu que a criminalização do aborto é inconstitucional. O acesso, no entanto, está ainda dependente dos estados, estando acessível em Sinaloa, Coahuila e Baja California apenas até às 12 semanas.
Apesar da lei ser muito recente, já há americanas a atravessar a fronteira sul para adquirir a pílula abortiva, que é gratuita no país.
Ao The Guardian, Vero Cruz, coordenadora do grupo de ativistas Las Libres, referiu que os cidadãos norte-americanos podem tecnicamente realizar abortos cirúrgicos nas clínicas públicas mexicanas de forma gratuita, ainda que o grupo não tenha conhecimento de nenhum caso em que isto já tenha acontecido.
Apesar disso, acrescentou, as cidades mexicanas estão já a preparar-se para fluxo de pessoas advindas dos Estados Unidos, caso a decisão do Supremo avance.