Andámos enganados. O nosso primeiro ascendente veio de um clima muito frio

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Os macacos japoneses são um exemplo de um primata que pode estar a viver num clima mais parecido com o dos seus antepassados do que se pensava anteriormente

Um novo estudo reescreve a teoria do evolução desde há 66 milhões de anos, desafiando o pensamento convencional de que os nossos antepassados vieram de florestas tropicais quentes. Afinal, os primeiros membros da nossa árvore genealógica evolutiva terão vindo do frio.

Investigadores da Universidade de Reading (Reino Unido) analisaram 479 espécies de primatas (178 extintas, através de fósseis, e 301 vivas), na América do Norte, Ásia e Europa, para acompanhar como a riqueza de espécies, a tolerância climática e a distribuição geográfica mudaram ao longo do tempo.

Para desafiar a hipótese aceite de que os primatas vieram da “floresta tropical quente”, os investigadores tiveram de reconstruir as relações evolutivas entre espécies, as localizações geográficas e as condições climáticas dos seus antepassados. Isto exigiu uma linha temporal de cerca de 66 milhões de anos.

A equipa fundiu dados genómicos e fósseis de centenas de espécies de primatas e, recorrendo a uma “superárvore” existente das relações dos primatas, os investigadores emparelharam um mapa complexo com localizações geográficas e climáticas detalhadas para dissecar a evolução das características em relação a estes fatores externos.

Depois, através de modelação biogeográfica bayesiana – um método estatístico que calcula a probabilidade de diferentes estados ancestrais, como a localização dos primatas ou a zona climática da época – acrescentaram mais detalhe a cada ramo da superárvore. Os resultados foram divulgados esta semana na PNAS.

Como detalha a New Atlas, os investigadores descobriram que alguns dos primeiros antepassados dos primatas muito provavelmente suportaram estações extremas de calor e frio e tinham disponibilidade de recursos altamente variável com base nestas oscilações sazonais.

A partir disto, os foi possível inferir que estes primatas antigos eram animais muito resilientes, com uma dieta generalista e capazes de suportar ambientes tão rigorosos e imprevisíveis.

Os investigadores acreditam que estes primeiros primatas provavelmente viveram na América do Norte, num clima frio com verões quentes, mas invernos gelados – o que derruba uma história de origem amplamente aceite há cerca de meio século.

“Durante décadas, a ideia de que os primatas evoluíram em florestas tropicais quentes não foi questionada”, disse, à New Atlas, Jorge Avaria-Llautureo, líder da investigação, da Universidade de Reading.

As nossas descobertas invertem completamente essa narrativa. Afinal, os primatas não surgiram de selvas luxuriantes – vieram de ambientes frios e sazonais no Hemisfério Norte”, sustenta.

Como terão ido parar às florestas tropicais?

Segundo a sua teoria, primatas que conseguiam sobreviver a estas condições rigorosas e ultrapassar os limites climáticos locais tinham a “aptidão” biológica para se reproduzir e depois deslocar-se gradualmente mais longe, de modo que diferentes influências externas – em termos de ambiente, recursos e clima levaram à evolução de novas espécies.

Assim, milhões de anos mais tarde, à medida que os climas mudavam – por vezes rapidamente – os primatas que se adaptavam bem conseguiram deslocar-se para novas regiões e diversificar-se ainda mais. Isto, acreditam os investigadores, explica como muitas espécies acabaram por habitar florestas tropicais.

ZAP //

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