Presidente da República defendeu o direito dos analistas a especular sobre as suas decisões, mas esclareceu que neste ponto as previsões saíram ao lado.
Marcelo Rebelo de Sousa anunciou esta tarde que não exigirá acordos escritos — tal como aconteceu com Aníbal Cavaco Silva — após as legislativas de janeiro, de forma a garantir uma solução governativa mais estável para o país. No entender do Presidente da República é prematuro falar de tal possibilidade, já que seria colocar-se à frente da vontade dos portugueses, numa altura em que faltam quase três meses para as eleições.
“Sobre a minha [alegada] exigência de um acordo escrito a seguir às eleições, isso é um absurdo. Porque antes mesmo de o povo escolher, o Presidente estar a pronunciar-se sobre aquilo que deve escolher e em que termos deve escolher. Isso não existe“, tratou de esclarecer.
O Presidente da República lembrou ainda que este tipo de acordos estão longe de ser regra na política portuguesa, já que inúmeros governos minoritários estiveram no poder durante quatro anos sem que tais documentos fossem necessários — lembrando o caso dos presididos por António Guterres.
“O povo é líder de escolher. E, por outro lado, sabe-se que em circunstâncias anteriores não exigia um acordo escrito, portanto, é um cenário que antecipa a expressão da vontade do povo e representaria uma mudança da orientação do Presidente da República relativamente ao passado. Os analistas têm o direito de fazer todos os cenários, mas digo que este está muito longe daquilo que corresponde à realidade à realidade”, afirmou.
Para Marcelo, possíveis acordos para questões pontuais terão que ser deixados ao critério dos partidos que estejam envolvidos numa eventual solução governativa, escreve o Expresso.
No âmbito do 32.º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo, Marcelo Rebelo de Sousa não quis comentar as mais recentes notícias relacionadas com a Operação Miríade, na qual um grupo de militares portugueses dos Comandos está a ser investigado pelo alegado envolvimento num esquema de tráfico de diamantes, ouro e drogas durante a participação em missões de paz na República Centro-Africana.
Segundo tem sido noticiado, o Presidente da República não terá sido informado da investigação pelo Ministro da Defesa, José Gomes Cravinho — o qual terá tido conhecimento das primeiras denúncias relacionadas com o caso em dezembro de 2019. O Chefe de Estado, por sua vez, só contactou com os factos, alegadamente, na passada segunda-feira, quando o Polícia Judiciária cumpriu os mandatos de buscas, e pela comunicação social.