Um restaurante venezuelano nos Estados Unidos está a ajudar jovens chefs deste país sul-americano a estabelecerem-se na sua área e na famosa “terra das oportunidades”.
Já passaram seis anos desde que o restaurante Alma Cocina Latina abriu portas, pela primeira vez, em Baltimore, no estado norte-americano do Maryland. Os seus clientes são atraídos por pratos típicos da Venezuela, como pescado frito ou arepas, mas, como conta o site Atlas Obscura, este não é um restaurante venezuelano como outro qualquer.
Desde 2015 que os seus fundadores – a fotógrafa Irena Stein e o arquiteto Mark Demshak – são responsáveis por terem levado para os Estados Unidos quatro chefs (em breve serão cinco) deste país sul-americano através do O-1 Visa, um visto de não residente concedido a pessoas que mostram uma capacidade excecional em áreas como a ciência, artes, educação ou desporto.
É um número enorme tendo em conta que se trata de um restaurante, sobretudo num período tão curto de tempo, isto porque o processo de obtenção deste visto costuma ser bastante demorado e difícil.
“Estas são pessoas que trabalharam desde muito novas para chegar onde estão hoje”, disse Stein ao mesmo site, destacando que só por isso “têm muito mérito”.
Foi o chef original do Alma, Enrique Limardo, quem propôs inicialmente esta ideia (Limardo é agora coproprietário e chefe do premiado Seven Reasons, em Washington D.C.). Seria juntar o útil ao agradável porque, por um lado, o restaurante ganharia cozinheiros experientes com conhecimento dos sabores venezuelanos, e, por outro, esses mesmos chefs teriam a oportunidade de se estabelecer num lugar estável.
Recorde-se que a Venezuela enfrenta há vários anos uma crise política, económica e social, que só ficou ainda mais agravada com o aparecimento da covid-19. As Nações Unidas estimam que, desde 2014, mais de 5,6 milhões de venezuelanos saíram do país para escapar ao regime autoritário de Nicolás Maduro.
“Embora eu adorasse abrir um restaurante na Venezuela, com o que está a acontecer no meu país, não iria para lá agora”, admitiu ao Atlas Obscura José Ignacio Useche, um dos chefs do Alma e que já trabalhou em países como o Chile, Canadá e México.
Além de poderem aprender como funcionam as cozinhas norte-americanas, o Alma pretende que estes jovens chefs acabem por abraçar a cidade dos EUA que os acolheu. E embora Stein saiba que alguns chefs, tal como Limardo, preferem cidades maiores (onde têm mais possibilidade de se tornarem conhecidos), tem sempre esperança, porque cidades como Baltimore, destacou, são mais acessíveis a nível económico e trazem menos pressão dentro da profissão.
“Baltimore é o tipo de lugar que te valoriza”, lembrou a dona do espaço, acrescentando que, desde o início, faz de tudo para que estas pessoas “se sintam em casa”.