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“Turismo de vacinas”. Milionários latino-americanos viajam para os EUA para serem vacinados

Numa altura em que o ritmo da vacinação ainda se mostra muito lento nos seus países, são muitos os latino-americanos que viajam para os EUA para poderem ter acesso a uma vacina contra a covid-19.

Segundo o New York Times, estes passageiros caraterizam-se por ser de classe média alta e viajam com o principal objetivo de regressar ao seu país de origem imunizados.

Um exemplo disso é Florencia Gonzalez Alzaga, fotógrafa de Buenos Aires, que planeou voar para os Estados Unidos para se vacinar contra o coronavírus. “É um sonho tê-la”, referiu Gonzalez, que foi vacinada em Miami em abril.

Contudo, este acesso é restrito e só é possível para os mais privilegiados, razão pela qual muitos acreditam que este “turismo de vacinas” acaba por criar uma desigualdade que pode agravar o impacto da pandemia.

Sean Simons, porta-voz da ONE Campaign, que trabalha para erradicar doenças e pobreza, considera que as viagens em busca de vacinas podem ter consequências graves e apelou a que as nações com vacinas excedentes as canalizem através do Covax.

“Milionários que cruzam continentes e oceanos para se vacinar, geralmente duas vezes, representam uma maior exposição ao vírus e uma maior probabilidade de disseminação das variantes”, refere Simons.

No entanto, como as histórias de sucesso de vários latino-americanos vacinados nos EUA se têm disseminado nas redes sociais, as autoridades locais de Nova Iorque e do Alasca têm incentivado ativamente o turismo de vacinação.

As agências de viagens da região começaram a vender pacotes de vacinação, incluindo roteiros multinacionais para brasileiros, que devem passar duas semanas num terceiro país antes de serem autorizados a entrar nos Estados Unidos.

José Carlos Brunetti, vice-presidente da Maral Turismo, uma agência de viagens na capital do Paraguai, afirmou ao NYT que essas viagens foram uma verdadeira lufada de ar fresco para o seu setor após um ano desolador.

“Em março começou a fúria para as pessoas viajarem para os Estados Unidos e tentarem vacinar-se”, explicou, acrescentando que “atualmente essa fúria traduz-se num crescimento exponencial do número de passageiros e voos”.

Entre os muitos que voaram para os Estados Unidos para se vacinar estão políticos proeminentes.

César Acuña é um deles. Apesar de ter prometido, enquanto candidato à presidência do Peru no início deste ano, que seria “o último” do país a ser vacinado, depois de perder as eleições considerou que não adiantava manter a promessa e foi vacinado fora do país. “Lembre-se de que tenho 68 anos, sou uma pessoa vulnerável”, referiu numa entrevista.

Também Mauricio Macri, ex-presidente da Argentina, prometeu em fevereiro que não tomaria a vacina “até que o último argentino em risco e trabalhadores essenciais a recebessem”.

Contudo, este mês, Macri partilhou em um post no Facebook a revelar que tinha sido vacinado em Miami com a dose única da Johnson & Johnson.

Atualmente, os Estados Unidos proíbem a maioria das pessoas provenientes do Brasil de embarcar em voos para cidades americanas, a menos que tenham passado duas semanas num país que não está sujeito a restrições de viagem.

No entanto, Andrea Schver, diretora da Venice Turismo, uma agência de viagens com sede em São Paulo, refere que a proibição não foi intransponível para clientes ricos, que estão cada vez mais dispostos a gastar vários milhares de dólares para garantir uma vacina.

Desde janeiro, os latino-americanos ricos têm contornado de forma criativa a já eliminada exigência de residência, seja mostrando contas bancárias com endereço nos Estados Unidos ou contratos de aluguer temporário, através da plataforma Airbnb, por exemplo, que eram cancelados de imediato.

Ana Isabel Moura, ZAP //

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