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Países usaram modelo do queijo suíço para conter a covid-19. Na Índia, alguns “buracos” eram demasiado grandes

A grande maioria dos países adotou a estratégia do queijo suíço para responder à pandemia. Na Índia, os “buracos” eram demasiado grandes em três das camadas mais importantes.

Para responder à crise sanitária desencadeada pela covid-19, a maioria dos países usou o modelo do queijo suíço: cada medida preventiva é representada por uma fatia de queijo, sendo que nenhuma fatia, por si só, pode impedir a propagação do vírus, uma vez que tem orifícios (falhas).

Por outro lado, muitas fatias empilhadas conseguem colocar um travão no contágio. Acontece que, na Índia, alguns dos buracos eram demasiado grandes em três das camadas mais importantes.

Ankur Mutreja, da Universidade de Cambridge, escreveu um artigo no The Conversation no qual explica que a primeira camada é representada pelo distanciamento físico.

Esta exigência é particularmente difícil no país, uma vez que as cidades indianas são densamente povoadas e cada vez mais populosas, devido à chegada diária de milhões de trabalhadores migrantes.

A segunda camada baseia-se no uso adequado de máscaras e saneamento aprimorado. Na Índia, as baixas taxas de alfabetização, a conformidade social irregular e o clima extremamente quente – que, em certas partes do país, pode chegar aos 50 ℃ – não ajudam.

A última camada é a vacinação em massa da população. As altas taxas de hesitação e, mais recentemente, a falta de vacinas são as culpadas pelo fracasso desta medida.

Até ao momento, a Índia vacinou parcial ou totalmente apenas 12% da sua população. Apesar disso, os representantes políticos sabiam que o desafio de vacinar a grande maioria das pessoas num país tão grande, populoso e demograficamente complexo seria difícil.

Ian M MacKay / Wikimedia

Modelo do queijo suíço

Durante a primeira vaga, as medidas restritivas na Índia foram umas das mais rígidas do mundo. O estigma de morrer de uma nova doença desconhecida encorajou as pessoas a usarem máscaras, pelo que duas das três camadas primárias de proteção funcionaram relativamente bem num primeiro momento.

No entanto, na segunda onda, a falha prolongada de todas as três camadas básicas foi um duro golpe no cenário de doenças infecciosas do país e no sistema de saúde debilitado.

A crise sanitária na Índia é o espelho de uma situação de saúde pública fora do controlo e de várias falhas na infraestrutura de saúde, que podem provocar uma taxa de mortalidade muito mais alta do que seria de esperar.

O investigador da universidade britânica afirma que a Índia pode ser o exemplo de uma importante lição para todos os países: os sistemas de saúde devem estar preparados, prontos para um aumento potencial de novas infeções, até que estejamos todos imunizados.

Liliana Malainho, ZAP //

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