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Ivan, o (não tão) Terrível. Aliado de Putin reescreve história para reabilitar reputação do 1.º czar

Segundo um alto funcionário russo, Ivã, o Terrível não era terrível e a sua reputação de tirano cruel é o resultado de uma campanha de difamação realizada pelo Ocidente no século XVI.

Nikolai Patrushev, o poderoso chefe do conselho de segurança do país e um dos aliados mais próximos do presidente Putin, disse que o primeiro czar da Rússia, que morreu em 1584, foi alvo de “cronistas ocidentais” durante a sua vida, que falsamente o retrataram como um governante sádico.

Segundo Patrushev, de 69 anos, ouvido pelo jornal Argumenty I Fakti e citado pelo jornal britânico The Times, o objetivo era “desviar a atenção dos europeus” da perseguição religiosa, como a Inquisição espanhola, a caça às bruxas e as violações “monstruosas” dos direitos humanos que acompanharam a colonização.

“[Os europeus] não gostaram do facto de o czar russo não reconhecer a sua liderança política e moral”, disse Patrushev, acrescentando ainda que a suposta campanha de difamação contra o czar foi um dos primeiros exemplos de “russofobia” e comparando-a ao que alegou ser uma crítica injusta ao moderno Kremlin por parte dos países ocidentais.

“Continuam a retratar o nosso país como a principal ameaça à liberdade e à tolerância”.

Ivã, o Terrível governou a Rússia durante 37 anos e é conhecido pelo massacre de Novgorod, quando milhares de pessoas foram queimadas vivas ou afogadas pela sua polícia secreta, a oprichniki.

O czar também matou o seu próprio filho, provavelmente durante um ataque de raiva.

Vladimir Medinsky, historiador e ex-ministro da cultura, argumentou que Ivã deve ser julgado pelos padrões da sua época e que merece respeito como fundador da Rússia moderna.

Os comentários de Patrushev são o mais recente movimento numa tentativa apoiada pelo Governo de reabilitar a reputação do czar.

Os críticos apontam que não havia um conceito da Europa como bloco político no século XVI. Já Gleb Pavlovsky, um ex-conselheiro do Kremlin, desdenha a ideia de ouvir “as opiniões dos oficiais de inteligência sobre história e cultura”.

A Rússia de Putin foi acusada de rever a história para se adequar a uma agenda nacionalista apoiada pelo Kremlin, incluindo a minimização dos expurgos de Estaline.

Maria Campos, ZAP //

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