O Conselho de Administração da Groundforce decidiu, esta quarta-feira, avançar com a anulação do acordo com a TAP, que comprou em março ativos da empresa, alegando que punha em causa a sua sobrevivência e dos 2.400 trabalhadores.
“Terminou há instantes a reunião do Conselho de Administração da Groundforce na qual, perante a opinião do Conselho Fiscal, dos auditores da Deloitte e de alguns juristas, se concluiu serem nulos os contratos de sale & leaseback e arrendamento, celebrados em 19 de março de 2021 entre a Groundforce e a TAP”, lê-se num comunicado enviado pelo presidente do Conselho de Administração (PCA) e presidente executivo (CEO) da Groundforce, Alfredo Casimiro.
De acordo com o PCA, aqueles contratos “eram desequilibrados e punham em causa a sobrevivência da Groundforce e o emprego dos seus 2.400 trabalhadores” e, por esse motivo, “foram anulados”, sem especificar o sentido de voto dos vários elementos da administração, onde a TAP está representada.
Questionada pela agência Lusa, fonte oficial do PCA disse que não foi permitido os dois administradores nomeados pela TAP (Beatriz Filipe e Valter Fernandes) votarem a proposta de anulação do acordo, referindo conflito de interesses, uma vez que a companhia aérea “é acionista, cliente e fornecedora da Groundforce”.
De acordo com o jornal online ECO, a proposta de anulação do contrato foi aprovada com votos a favor de dois representantes da Pasogal – Alfredo Casimiro e Gonçalo Faria de Carvalho – e abstenção do ex-CEO Paulo Neto Leite, destituído do cargo no início de abril, mas que se manteve como administrador não executivo.
O CA decidiu ainda “iniciar negociações com a TAP até um período máximo de seis meses”, para encontrar uma solução que permita “refazer os contratos de forma justa e equilibrada para ambas as partes, permitindo a continuidade e o futuro da Groundforce”.
“É intenção do acionista Pasogal manter e desenvolver uma relação saudável com a TAP, como aquela que existiu entre 2012 e 2019, acreditando estarem reunidas as condições para regressar à normalidade, assim se confirme o número de voos previstos pelo Eurocontrol e pela IATA e desde que interesses externos e a tutela da TAP não interfiram no normal funcionamento da empresa”, acrescentou o acionista maioritário da empresa de handling.
O Conselho de Administração da Groundforce esteve reunido para votar a anulação do contrato com a TAP, que permitiu encaixar cerca de sete milhões de euros com a venda de ativos da empresa.
Com o acordo, celebrado a 19 de março, a TAP comprou os equipamentos da Groundforce por cerca de sete milhões de euros, uma solução de curto prazo, que permitiu resolver os problemas mais urgentes da empresa, como pagar os salários de fevereiro e março em atraso aos 2.400 trabalhadores, enquanto não existe uma solução para as restantes verbas de que necessita, para fazer face aos prejuízos causados pela pandemia.
Este acordo, que prevê também que a Groundforce pague 461.762 euros mensais à TAP pelo aluguer dos equipamentos que necessita para a operação e que a companhia lhe comprou.
De acordo com o mesmo jornal digital, com a anulação do acordo, a empresa de handling terá de devolver os sete milhões de euros à TAP. No entanto, como não tem disponibilidade financeira imediata para o fazer, deverá agora discutir com a companhia aérea um plano de pagamentos faseados.
Groundforce tem salários de maio assegurados
Alfredo Casimiro disse também, esta quarta-feira, que tem os salários de maio assegurados, que só estavam garantidos até abril, e que espera que o mesmo aconteça aos de junho, nas próximas semanas.
“Estão assegurados os salários de maio e espera-se, nas próximas semanas, ter a segurança necessária para garantir os de junho“, lê-se no comunicado enviado pelo dono da Pasogal no final da reunião do Conselho de Administração.
“Tudo isto só tem sido possível com grande empenho dos acionistas e dos seus representantes”, acrescentou o acionista maioritário, que deixou ainda uma palavra de agradecimento a todos os envolvidos, com destaque para “alguns sindicatos” e a Comissão de Trabalhadores, que “de forma construtiva, têm dado um apoio inestimável” para ultrapassar o “desafiante momento” que a empresa vive.
A Groundforce é detida em 50,1% pela Pasogal e em 49,9% pelo grupo TAP, que, em 2020, passou a ser detido em 72,5% pelo Estado português e que é acionista minoritário e principal cliente da empresa que presta assistência nos aeroportos de Lisboa, Porto, Faro, Funchal e Porto Santo.
ZAP // Lusa