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De boas intenções está o inferno cheio. Acabar com voos até 600 km é “proibição cega”

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António Cotrim / Lusa

O ministro das Infraestruturas Pedro Nuno Santos.

O fim das viagens de avião com menos de 600 quilómetros, um desejo manifestado pelo ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, é uma intenção “louvável”. Ambientalistas e especialistas concordam, mas falam em “areia para os olhos” e “proibição cega”.

“A proibição é um instrumento que muitas vezes é demasiado cego“, aponta, desde já, o especialista em transportes José Manuel Viegas, em declarações à Rádio Renascença.

Esta é a reacção ao desejo manifestado por Pedro Nuno Santos aquando da apresentação do Plano Nacional Ferroviário, nesta semana. O ministro falou na necessidade de “tirar carros e camiões das estradas” e de acabar com os voos “com menos de 600 quilómetros”.

Nesse cenário, todos os voos em Portugal Continental desapareceriam, incluindo a ligação Lisboa-Porto, com excepção da ligação Bragança-Faro.

Para a activista ambiental Inês Teles, porta-voz da ATERRA – Campanha Pela Redução do Tráfego Aéreo e por Uma Mobilidade Justa e Ecológica, seria uma boa notícia, como diz à Renascença, considerando que o voo Porto-Lisboa é “uma situação absurda” quando existe “alternativa altamente viável” que é o comboio.

Inês Teles salienta que a “assusta” a “crise climática que estamos a enfrentar”. Mas “não me assusta minimamente que sejam eliminados por completo todos os voos domésticos em Portugal Continental”, nota, frisando que é preciso um “corte massivo de emissões” poluentes.

Contudo, a activista refere que teme que sejam apenas “palavras bonitas” para “atirar areia para os olhos”, até porque o Governo continua a insistir na construção do novo aeroporto de Lisboa.

Também José Manuel Viegas realça que “a intenção é louvável”. Contudo, o especialista em transportes refere que é “danosa”, pois “há casos de fronteira que correspondem a utilizações legítimas e eficientes”.

“O que estamos a fazer se os proibirmos e não houver uma boa ligação de comboio? As pessoas vão de carro, que provavelmente em muitos casos tem mais emissões do que o avião”, constata sobre o que diz que seria uma “proibição cega”.

Para Viegas, o que “faz sentido” é criar “condições que levem as pessoas a preferir, para distâncias até aos 600 quilómetros, usar modos com menos emissões que o avião, nomeadamente o caminho de ferro”.

Por outro lado, o secretário-geral da Associação Portuguesa de Transporte e Trabalho Aéreo (APTTA), Rogério Pinheiro, lembra na Renascença que o comboio de alta velocidade que circule a 300 km/hora “consome 9 vezes mais energia que um comboio que circule a 100 km/hora”.

“Esta realidade não se verifica com os aviões, que consomem sensivelmente o mesmo por hora de voo independentemente da velocidade, pelo que acabam por ser mais eficientes a velocidades mais altas”, conclui.

Porém, proibir voos de curta distância pode ser mesmo uma tendência para os tempos vindouros. Em França, neste mês, o Parlamento aprovou uma proposta para acabar com os voos domésticos dentro do país nos casos em que haja uma alternativa por comboio e quando as viagens durem menos de 2 horas e meia.

ZAP //

4 Comments

  1. Quem se farta de atirar areia para os olhos dos portugueses são essas associações ambientalistas. O que o Sr. Ministro disse foi ser imperativo acabar com as viagens de “avião com menos de 600 km, NA EUROPA!” Ora, se não entendem que isto é uma afirmação de ambição política, reparem bem na parte final “NA EUROPA”. Que se saiba o Sr ministro não tem qualquer poder para fazer o que seja na Europa, aliás nem sequer em Portugal!! Por isso aquilo que o Sr ministro disse foram palavras para (“totós”) ambientalistas levarem a sério (?). É óbvio que nem os aviões vão acabar nem os carros e os camiões vão sair da estrada. E então como ia ser sem o dinheiro dos impostos da gasolina, das emissões de carbono, do ISV etc, etc… E o Hidrogénio??!!
    Ou será que o sonho dos ambientalistas é voltar ao tempo da carroça?!

    • Oh Tony, não te chateies, pá ! Quando isto der o “berro ambiental”, não terás que te preocupar mais com essas contradições todas. Como por exemplo, os mortos não pagam nem recebem impostos…

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