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Uma ilha, cinco géneros. Os Bugis têm palavras para as “cinco maneiras de estar no mundo”

collin_key / Flickr

Bugis em Sulawesi, uma ilha na Indonésia

Uma ilha, cinco géneros. O povo Bugis é um poderoso grupo étnico que se destaca pelo reconhecimento de cinco géneros distintos.

Na Indonésia, a ilha Sulawesi é a casa de um povo que reconhece cinco géneros distintos na sua sociedade. Os Bugis são o maior grupo étnico do sul da ilha e, apesar de representarem apenas seis milhões dos cerca de 270 habitantes do país, são muito influentes – política, económica e culturalmente.

No entanto, é a sua organização social sem precedentes que os faz serem conhecidos pelo globo. “Os Bugis têm palavras para cinco géneros, que correspondem a cinco maneiras de estar no mundo”, explicou à BBC Sharyn Graham Davies, antropóloga da Monash University, em Melbourne.

Makkunrai corresponde ao conceito ocidental de cis feminino, enquanto que Oroani corresponde ao conceito ocidental de cis masculino.

Os Calalai nascem com um corpo feminino, mas assumem papéis de género tradicionalmente masculinos: segundo a antropóloga, usam camisas e calças, fumam cigarros, têm cabelo curto e fazem trabalho manuais.

Já os Calabai nascem com corpos masculinos, mas assumem papéis de género tradicionalmente femininos: usam maquilhagem, vestidos e têm, normalmente, cabelos muito compridos.

O quinto e último é o Bissu: nem mulheres nem homens, estas pessoas personificam o poder de ambos os géneros e são encaradas como seres espirituais.

“Diz-se que, durante a sua descida do céu, os Bissu não se dividiram para se tornarem homens ou mulheres, como a maioria das pessoas. Em vez disso, são uma união sagrada dos dois”, esclareceu Graham Davies.

Os Bissu, que também desempenham um papel de xamã, são reconhecidos pelas suas roupas: costumam usar flores, símbolo tradicionalmente feminino, e a adaga keris, associada aos homens.

Apesar de Calabai e Calalai terem sido aceites, a BBC realça que a sociedade indonésia se tornou menos tolerante com a questão da não binariedade de género em meados do século XX. Na década de 1950, por exemplo, começou uma onda de ataques violentos contra a comunidade LGBTQ.

A conceção Bugis do género também colide com o Islão. Em relação à religião, a antropóloga explicou que muitos Calalai e Calabai lidam com um dilema: dividem-se entre o facto de o seu estilo de vida e sexualidade serem pecado e serem o que são porque Alá assim os desejou.

“Bissu, Calalai e Calabai sofrem muito estigma e discriminação, uma realidade que infelizmente está a aumentar com a afirmação do Islão político”, disse Nasir, um Bugi que trabalha na área de saúde pública na província de Sulawesi do Sul.

“O futuro destas pessoas perseguidas não é muito promissor”, acrescentou.

Liliana Malainho, ZAP //

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