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Na sua jornada, o cometa interestelar 2I/Borisov nunca passou perto de uma estrela. É dos mais puros do Universo

ESO / M. Kormesser

Novas observações com o telescópio VLT, no Chile, permitiram aos astrónomos concluir que o 2I/Borisov pode ser o cometa mais puro, mantendo imaculadas as assinaturas da nuvem de gás e poeira que lhe deu origem.

O cometa interestelar 2I/Borisov foi descoberto em setembro de 2019 quando se começou a aproximar do Sistema Solar interno a partir das profundezas do espaço. À medida que se aproximava do Sol, ficou mais quente e começou a libertar cada vez mais material do seu interior.

A princípio, o visitante interestelar parecia muito semelhante aos cometas no nosso Sistema Solar. No entanto, acabou por ser muito diferente.

“O 2I/Borisov pode bem representar o primeiro cometa verdadeiramente puro alguma vez observado”, afirmou, citado em comunicado pelo Observatório Europeu do Sul (OES), que opera o telescópio VLT, o coordenador do estudo, Stefano Bagnulo, do Observatório e Planetário Armagh, no Reino Unido.

Segundo o estudo, publicado na revista científica Nature Communications, o cometa interestelar nunca terá passado perto de uma estrela antes de passar pelo Sol em 2019.

Ao analisar a polarização da luz (luz filtrada) e a cor do cometa para saber mais sobre a composição do 2I/Borisov, a equipa de astrónomos concluiu que o cometa é mais puro do que o cometa Hale-Bopp, detetado a olho nu pela primeira vez em maio de 1996 e considerado bastante puro – com uma composição muito semelhante à nuvem de gás e poeira que lhe deu origem, assim como ao resto do Sistema Solar, há cerca de 4,5 mil milhões de anos.

Stefano Bagnulo e os colegas usaram um dos instrumentos do telescópio VLT para estudar em detalhe o 2I/Borisov e recorreram à técnica de polarimetria, que permite medir a polarização da luz. A luz torna-se polarizada quando passa através de certos filtros, como materiais cometários, explica o OES.

“Ao estudarem as propriedades da luz solar polarizada pela poeira de um cometa, os cientistas podem aprender mais sobre a física e química destes objetos”, adianta o observatório.

A técnica de polarimetria é habitualmente usada para estudar cometas e outros pequenos corpos celestes do Sistema Solar e, através dela, os astrónomos puderam comparar 2I/Borisov com cometas do Sistema Solar e descobrir que “tem propriedades polarimétricas distintas das dos cometas do Sistema Solar, com exceção do Hale-Bopp”.

“O facto de os dois cometas serem consideravelmente semelhantes sugere que o meio que deu origem ao 2I/Borisov não é assim tão diferente, em termos de composição, do meio do Sistema Solar primordial“, sustentou um dos coautores do estudo, Alberto Cellino, do Observatório Astrofísico de Turim, em Itália.

De acordo com os cientistas, os cometas são constituídos pelos mesmos elementos químicos e nas mesmas proporções com que o Sistema Solar foi formado, podendo, por isso, fornecer informação sobre o Sistema Solar primitivo.

Antes da sua mais recente passagem pelo Sol, observada em 1996 e 1997, o cometa Hale-Bopp terá passado perto do Sol apenas uma vez, o que significa que estaria pouco afetado pelo vento e radiação solares, assinala o OES.

O 2I/Borisov é o primeiro cometa interestelar observado e o segundo corpo interestelar a passar pelo Sol depois do 1I/Oumuamua, descoberto em 2017 e reclassificado como asteroide.

A jornada do 2I/Borisov pelo Sistema Solar foi fatal para o cometa. As últimas observações mostram que se separou alguns meses após a sua passagem mais próxima ao Sol, que ocorreu em dezembro de 2019.

Porém, as observações vão continuar. Os astrónomos querem saber o máximo possível sobre este objeto, que é o segundo objeto interestelar descoberto na história.

ZAP // Lusa

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