/

Suspensão da AstraZeneca atrasa vacinação em duas semanas

33

Hannibal Hanschke / AFP

Portugal cedeu à pressão e, à semelhança de outros países europeus, suspendeu a administração da vacina da AstraZeneca “por extrema precaução”. O processo de vacinação atrasa, assim, duas semanas e é interrompido o plano de vacinar professores e funcionários escolares já a partir deste fim de semana.

As autoridades de saúde nacionais anunciaram, ao início da noite desta segunda-feira, que Portugal também vai suspender a utilização da vacina da AstraZeneca, à semelhança de outros países europeus que também já suspenderam a administração desta vacina devido a relatos de aparecimento de coágulos sanguíneos em pessoas vacinadas.

Madeira e Açores decidiram também suspender a administração da vacina, seguindo a indicação da Direção-Geral da Saúde (DGS).

Esta suspensão impacta negativamente o plano de vacinação nacional contra a covid-19, depois dos vários atrasos nas entregas das vacinas ou das polémicas que levaram à troca de liderança na task force.

Segundo o Diário de Notícias, a interrupção do uso desta vacina vai levar a que o plano nacional de vacinação sofra um “atraso de cerca de duas semanas“. A primeira fase é assim estendida até ao final de abril, segundo o vice-almirante Gouveia e Melo.

O efeito imediato, anunciado pelo responsável, é o “adiamento da vacinação de professores e pessoal não docente de estabelecimentos do pré-escolar e do primeiro ciclo”, cujo arranque estava previsto para o próximo fim de semana. Em causa está a vacinação de cerca de 80 mil pessoas.

Para já, “o processo de vacinação prosseguirá com outras vacinas e centrado no grupo etário das pessoas com 80 ou mais anos e nas pessoas com idade igual ou superior a 50 anos com uma das comorbilidades previstas para a fase 1 da vacinação”.

“Caso esta situação que envolve a suspensão da vacina da AstraZeneca se prolongue, prevê-se que a fase 1 do Plano de Vacinação possa terminar na terceira semana de abril, retomando-se então a administração aos profissionais de educação”, esclareceram as autoridades de saúde.

Quanto às pessoas que já receberam a primeira dose da vacina em causa, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, disse que “está previsto que a segunda dose da Astrazeneca ocorra daqui a bastante tempo“.

Neste intervalo, as agências e autoridades de saúde vão chegar a uma conclusão sobre a segurança da vacina com base nos dados de vigilância.

“Se foi vacinado, mantenha-se tranquilo. Estas reações são extremamente raras e no nosso país não foram reportados fenómenos semelhantes aos encontrados nos outros países”, afirmou Graça Freitas, na conferência de imprensa conjunta com o Infarmed e com a task force do plano de vacinação.

Além de Portugal, são já, pelo menos, 16 os países que suspenderam o uso da vacina: Alemanha, Áustria, Bulgária, Dinamarca, França, Espanha, Estónia, Holanda, Irlanda, Islândia, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Noruega e Roménia.

A Bloomberg destaca que, na sequência das suspensões da vacina em vários países europeus, atingir o objetivo da Comissão Europeia de ter 70% dos europeus vacinados até ao final do verão será mais difícil.

O objetivo pode sofrer um atraso de algumas semanas ou mais – até setembro em vez de agosto – de acordo com a empresa de pesquisa Airfinity.

“Toda a evidência científica indica que a vacina é segura”

“Toda a evidência científica, que é muito forte, indica que a vacina é segura, tanto nas fases 1, 2, 3, como agora na fase 4, não havendo nenhuma razão para o nosso país suspender a sua utilização”, afirmou à Lusa o virologista Pedro Simas, ainda antes de a DGS e o Infarmed terem anunciado a suspensão da administração do fármaco.

O investigador principal do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa lembrou que no Reino Unido já foram inoculadas com esta vacina mais de onze milhões de pessoas e na União Europeia cerca de cinco milhões de pessoas e, até agora, “não foram reportados eventos tromboembólicos superiores àqueles que seriam esperados normalmente”.

“Isso é uma evidência (prova) muito grande de que a vacina é segura“, adiantou Pedro Simas, ao salientar que na fase 4 que está a decorrer, na qual já foram inoculadas pelo menos 16 milhões de pessoas, o novo fármaco tem demonstrado que é seguro.

“Temos muito poucas vacinas [em Portugal], não podemos deixar de vacinar as pessoas quando a vacina é segura”, defendeu o virologista, ao manifestar-se, perante a informação científica disponível até ao momento, de acordo com a posição tomada pela Organização Mundial de Saúde e pela Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) e pela Direção-Geral de Saúde.

“Temos de tomar, neste momento, decisões com base na evidência (prova) científica que nos diz que a vacina é segura”, afirmou.

Liliana Malainho, ZAP // Lusa

33 Comments

  1. Essa crise pandémica devia ser uma lição para os defensores do liberalismo do IL e outros… A economia de mercado deixou-nos sem mascaras e ventiladores no ano passado porque tudo vem da China. Agora, a única vacina 100% europeia falha (os outros laboratórios europeus como a Sanofi não conseguiram produzir uma vacina e a Biontech não tem capacidade de produção), pela falta de produção pela eficácia e agora por suspeita de falta de segurança. Se ela for retirado do mercado caso as suspeitas se verificam, ficamos dependentes de vacinas russas, chinesas ou americanas. E a vacinação em massa só terá lugar depois dos USA, ou seja à partir do dia 5 de julho, com todas as consequências económicas mas sobretudo em numero de mortos e “feridos” com longos tratamentos em fisioterapia. A economia mista, que tínhamos, era ao meu ver a boa solução, alguns sectores estratégicos (energia, comunicação, transportes urbanos…) devam ficar na mão do estado e a saúde é um deles.

    • Olá Xico não seja tão pessimista, a não ser que seja Cientista e realmente tenha estudado a reação dessa vacina, muita calma nesta hora. Obrigado por sua atenção.

    • Oh Xico, não foi a economia de mercado nem o liberalismo que nos deixaram sem máscaras, ventiladores, pórticos desinfectantes, testes e agora até vacinas. O que nos deixou e deixa sem acesso directo a esses meios de proteção é a penúria recorrente, resultante de uma democracia de fachada, paga a “preço d’ouro” para sustento de gente cuja única profissão que exerce é a de “democrata”. Esses mercenários da democracia absorvem sózinhos 40% da execução orçamental concretamente: 232 na AR, nas 308 Autarquias, nas 4552 Freguesias e nos múltiplos Institutos Públicos, Comissões de Coordenação Regional etc., supostamente a gerir uma população que tem a dimensão de uma cidade grande, dez milhões de pessoas.

    • “devam ficar na mão do estado e a saúde é um deles”

      Tem a certeza? É que apesar dos problemas conhecidos com a Saúde nos EUA, os resultados estão à vista. 3 vacinas aprovadas, mais de 100 milhões de pessoas vacinadas com pelo menos 1 dose. Na Europa, nenhuma vacina aprovada sem problemas, baixo número de pessoas vacinadas, e as que foram vacinadas foi com vacinas Americanas.

      • Não, mas estão sujeitas a um contexto regulatório, imposto pelo Estado, que não é conducente a inovação farmacêutica.

      • Pois, mas esse “contexto regulatório” está a acontecer nos EUA e não na UE; precisamente o contrário do que tu referes!…

      • Não é a isso que me estou a referir. Estou a referir-me ao comentário que a Saúde é algo que deva estar sob o controlo do Estado. As farmacêuticas Europeias estão sujeitas a regulamentação que objetivamente compromete a sua capacidade de inovar. É por essa razão que 50% de todos os medicamentos a nível mundial têm origem nos EUA, e é provavelmente a mesma razão que explica que os EUA já tenham 3 vacinas a funcionar em pleno, enquanto a Europa tem 1, e com as dificuldades que se fala nesta notícia.

      • Outro “pormenor”:
        “UE exportou 34 milhões de doses da vacina para fora do bloco. Farmacêuticas alertam para escassez de matérias-primas”

        “A Bloomberg avança que a União Europeia exportou 34 milhões de doses de
        vacina contra a covid-19 para outros países, incluindo 9,1 milhões de doses para o Reino Unido (o maior destinatário das exportações das vacinas da UE até 9 de março).

        Até esse dia, foram exportadas 954 mil doses para os Estados Unidos, 3,9 milhões para o Canadá e cerca de um milhão de doses para o Reino Unido só na última semana. Foram enviadas 3,1 milhões de doses para o México e o Japão recebeu 2,7 milhões.”
        zap.aeiou.pt/ue-exportou-34-milhoes-fora-bloco-386800
        11 Março, 2021
        .
        Os EUA só exportam as vacinas que “sobram”!…

      • “Os EUA só exportam as vacinas que sobram”

        Completo disparate. Salvo um Estado ou outro, a vacinação nos EUA ainda só está disponível a grupos prioritários. O Biden quer que a partir de Maio o processo de vacinação seja aberto a toda a população, mas isso também depende das farmacêuticas produzirem o suficiente.

      • “Completo disparate.”
        É?! Mas é exactamente o que acontece nos EUA!!!
        “Trump assina decreto para garantir que EUA têm acesso a vacinas antes da exportação”
        “A administração Trump comprou 200 milhões de vacinas contra a Covid-19 às farmacêuticas Pfizer/BioNTech e Moderna. Mas o ainda presidente teme que o número não seja suficiente para vacinar os mais de 330 milhões de norte-americanos.
        Assinou, por isso, uma ordem executiva para garantir que os cidadãos têm acesso às vacinas americanas antes destas serem exportadas. Caso as empresas não cumpram, Trump ameaça fazer uso da lei de produção de defesa, que obrigaria as farmacêuticas a antecipar a produção das vacinas.”
        SIC Notícias, 09.12.2020
        .
        “Covid-19: Johnson & Johnson fecha acordo para produzir vacina na Alemanha”

        “Uma vez nos EUA, o produto final é abrangido pela legislação norte-americana, o que restringe as exportações de vacinas.”

        noticiasaominuto.com, 15/03/21 POR LUSA

      • Certo, mas deve haver formas de contornar isso, caso contrário, onde é que Israel arranjou todas as vacinas da Pfizer que tem? E as vacinas da Moderna que a Europa tem, de onde vieram? Mesmo que não existam vacinas da Pfizer a serem enviadas dos EUA para a Europa, a Pfizer tem uma fábrica na Bélgica a produzir para a Europa.

  2. Há uns obcecados que insistem que o risco de se morrer por se tomar a vacina AstraZeneca é muito inferior ao risco de se morrer se não se for vacinado, e usam esta argumentação desmiolada para insistir na necessidade de se continuar a utilizar a vacina suspeita. Esquecem-se de dizer que há alternativas à AstraZeneca, e que a sobrevivência à pandemia não depende do uso desta vacina. Se outra não houvesse, tudo bem. Mas há. O dramático é que vacinas muito mais seguras e pelo menos tão eficazes esperam há meses pela aprovação por parte das autoridades europeias, sem que se avance. Tivesse a vacina russa sido já aprovada, e não precisaríamos da AstraZeneca para nada para proteger as pessoas sem os riscos de trombose. A única decisão possível, face aos riscos de trombose da AstraZeneca é banir por completo essa vacina e utilizar as alternativas já disponíveis. Mas parece que este raciocínio é muito difícil de aceitar por parte de quem prefere fazer mal à Rússia a fazer bem aos nossos povos.

    • Desde Agosto, a Rússia ainda só conseguiu administrar 8 milhões de doses. A Rússia não tem capacidade de produção para suprir as necessidades internas, quanto mais as necessidades Europeias. A vacina Russa tem outro problema, bem documentado no artigo da Lancet. Não foi testada tendo em conta diversidade étnica, foi apenas testada em Russos. Como tal, a sua segurança não está garantida quando se trata de administrar a vacina a uma população Europeia etnicamente diversa.

      • Porque as vacinas funcionam de forma diferente conforme a etnia… Há vacinas para brancos, vacinas para pretos e vacinas para amarelos… Oxalá haja vacinas para gente estúpida que aumente o QI ao mesmo tempo que protegem do coronavirus…

      • Sim, as vacinas funcionam de forma diferente conforme a etnia. Vários estudos foram feitos a comprovar este facto. Aproveite e tome essa vacina para gente estúpida.

      • Não consigo incluir aqui links, parece que o Zap não deixa. Mas uma simples pesquisa no Google permite encontrar links relevantes – vaccine effectiveness variation by ethnicity

    • De m… percebes tu!…
      Portugal, mesmo com poucas vacinas consegue estar à frente da Suíça, França, Suécia, Holanda, Luxemburgo, Bélgica, etc…

      • O assunto é a governação e a vacinação… não te preocupes com a minha educação; tenta melhorar a tua!…

      • O teu sentido de distinção está em falta.
        Vou resumir, para conseguires perceber bem: Portugal NÃO ESTÁ À FRENTE de outros países da União Europeia no que toca à vacinação, visto que, em quase três meses, nem vinte por cento da população portuguesa foi vacinada. E não interessa se vierem trinta milhões de uma vacina, e sete milhões da outra. Falando da AstraZeneca, enfim… foi dinheiro mal gasto. Não tomo esta vacina, nem quando for um cadáver.
        Com licença.

      • Portugal está à frente de METADE de outros países da UE, já que está +- a meio da tabela no n° de vacinados!
        Não estão mais pessoas vacinadas (em Portugal e no resto da UE) porque não há vacinas – a farmacêutica falhou, mais uma vez, os prazos de entrega.
        Se não tomas é lá contigo, agora, dizer que foi dinheiro mal gasto quando claramente não percebes NADA do assunto,…

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.