Todos os dias são vendidas milhares de raspadinhas em Portugal. Este é um dos jogos preferidos dos portugueses e por isso é um dos que mais se vende nos quiosques e papelarias de todo o país. Contudo, o simples ato de raspar o cartão com uma moeda pode tornar-se num vício, que com o confinamento ainda pode piorar.
Raúl Melo, especialista do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) explica, em entrevista ao Expresso, que os jogos sociais, como a raspadinha, “oferecem a ideia de milagre”, sendo que os problemas de saúde mental provocados pelo confinamento também podem contribuir para que as raspadinhas se tornem um vício.
O psicólogo realça que são cada vez mais as pessoas a aderirem a este tipo de jogos e que isso pode criar uma “situação de dependência” que deve ser notada quando “a nossa vida é alterada para termos aquele comportamento”.
Segundo o especialista a situação torna-se mais problemática “quando começamos a pôr em causa a nossa condição de vida em função desse comportamento”, dando como exemplo a altura em que “alguém se torna desleixado em relação às responsabilidades que tem e começa a deixar coisas para trás por causa desse comportamento”.
Este vício pode “prejudicar o equilíbrio financeiro e até familiar pela necessidade de ter um comportamento que tem a ver com uma certa expectativa, a de ganhar”. Raúl Melo alerta que “quando assume um caráter impulsivo, claramente estamos perante uma situação de dependência”.
Numa altura em que as pessoas se sentem frustradas e depressivas, procuram muitas das vezes alento em comportamentos de adição. “É quando perdemos a esperança e quando tudo parece difícil de mudar que as ideias mais irrealistas se entranham. E se o confinamento reforça sentimentos de depressão, então dá-se uma fuga para comportamentos estimulantes, que é uma forma de defesa natural”.
Como afirma o psicólogo, “o jogo oferece ideia do milagre”.
O problema dos jogos de azar, segundo o especialista, é o facto de nestas situações se gerar “uma questão muito típica (…) que é o falhar por pouco”, pois “quando temos essa sensação, isso desencadeia frequentemente o impulso de voltar a jogar, no sentido de que é na próxima que a coisa vai correr melhor”.
Um outro problema associado a este tipo de jogo é a sua fácil acessibilidade, sendo que este fator “corresponde a um maior risco de dependência”, uma vez que é muito fácil aceder um posto onde seja possível comprar raspadinhas.
Ainda assim, Raúl melo frisa que, por parte dos agentes de vendas, “há a tentativa de sensibilizar as pessoas, com mensagens como ‘pense bem, já gastou aqui metade da sua reforma’”. O médico garante ainda que “há pessoas que, no dia em que recebem a reforma, podem gastar metade do dinheiro para o mês todo”.
Como noticiou o Dinheiro Vivo em setembro de 2020, a Santa Casa registou, no ano passado, vendas brutas de 1.718 milhões de euros com a Raspadinha, o que significa que os portugueses gastaram em média 4,7 milhões de euros por dia nesta lotaria instantânea.
Aqueles sorteios telefónicos manhosos que invadiram as TVs assim como as vigarices dos Calcitrin’s e outros promovidos pelos Goucha’s e companhia (pagos a peso de ouro para influenciar os mais “limitados”) são outros vícios que devem ser urgentemente analisados e controlados!!