O primeiro-ministro considerou esta terça-feira que a resposta política mais eficaz ao Chega não passa pela sua ilegalização, mas por solucionar os problemas sociais que alimentam o populismo e explicam a existência do partido.
António Costa foi confrontado, em entrevista à rádio Observador, com as declarações do presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, que precisamente àquele órgão de comunicação social admitiu que “a questão da ilegalização do Chega venha a colocar-se”.
“Eu prefiro mais a pedagogia do que as proibições e acho que a forma eficaz de combater o Chega é dar resposta aos problemas sociais que alimentam o descontentamento, a desesperança, a descrença porque essa é a base do populismo”, começou por responder o primeiro-ministro, sublinhando a sua cultura e espírito liberal.
Deixando claro que “a ilegalização é uma matéria que compete ao sistema de justiça”, Costa focou-se na questão política: “o que eu acho que é fundamental é responder às causas políticas que explicam a existência do Chega na sociedade portuguesa”.
“Isso é para mim a prioridade. Quanto ao mais, isso são as competências próprias, designadamente do Ministério Público, que pode acionar se assim o entender os mecanismos previstos para ilegalização de qualquer partido político”, justificou.
Sublinhando que não crê que “seja essa a resposta mais eficaz, pelo menos do ponto de vista político”, o primeiro-ministro escusou-se a “dar conselhos ao Ministério Público sobre o que deve fazer”.
“Agora, do ponto de vista político o que devemos procurar entender é quais são os fenómenos e as causas sociais que têm gerado este clima, que tem levado muitas pessoas a entenderem que é no Chega que têm a resposta aos seus problemas”, reiterou.
Na mesma entrevista, António Costa voltou a ser muito crítico em relação à atuação do líder do PSD, Rui Rio, ao ter contribuído para a aprovação da alteração ao Orçamento do Estado para 2021, apresentada pelo BE, que anula a transferência de 476 milhões de euros do Fundo de Resolução para o Novo Banco.
“Ficámos todos a saber é que Rui Rio, com muita facilidade, arruma os seus princípios”, condenou, considerando que esta aprovação foi “uma bravata política que vai ser jurídica e financeiramente inconsequente”.
Questionado sobre se esta decisão do PSD afetou as suas relações com Rui Rio, Costa defendeu que a ideia de que os dois líderes dos maiores partidos eram “parceiros de tango” foi “uma ficção da comunicação social”, uma vez que isso nunca aconteceu.
Segundo o primeiro-ministro, as relações políticas com o líder da oposição “nunca existiram”, considerando que os acordos para a descentralização e para os fundos europeus “são duas árvores que não fazem a floresta”.
Sobre o bloco central, na perspetiva do chefe do executivo, Costa e Rio estão de acordo: “nem ele deseja o bloco central, nem eu desejo o bloco central”.
// Lusa