A misteriosa tempestade em forma de hexágono situada no pólo norte de Saturno pode estar prestes a ser explicada. Dois cientistas da Universidade de Harvard sugeriram um novo modelo que procura explicar como surgiu.
Um novo estudo usou um novo modelo de simulação tridimensional da atmosfera de Saturno para entender como o vórtice hexagonal de aparência não natural se formou.
“Vemos tempestades na Terra regularmente e estão sempre em espiral, às vezes circulares, mas nunca algo com segmentos de hexágono ou polígonos com bordas”, disse Rakesh K. Yadav, autor do estudo que trabalha no laboratório de Bloxham no Departamento de Ciências da Terra e Planetárias de Harvard, em comunicado.
“Isto é realmente impressionante e completamente inesperado. [A questão em Saturno é] como um sistema tão grande se formou e como um sistema tão grande consegue permanecer inalterado neste grande planeta?”, continuou.
A simulação de um mês revelou que a forma da tempestade parece ser formado por um processo de convecção térmica profunda, provavelmente a milhares de quilómetros de profundidade, estendendo-se muito mais abaixo do topo das nuvens de Saturno.
A equipa argumenta que uma interação complexa ocorre entre grandes e pequenos ciclones giratórios que circundam uma grande corrente de jato horizontal que brota perto do pólo norte do planeta. As tempestades mais pequenas interagem com as tempestades maiores, comprimindo o jato oriental e confinando-o ao topo do planeta, deformando o fluxo num hexágono.
“Imagine que temos um elástico e colocamos um monte de elásticos mais pequenos em torno dele e apertamos tudo de fora. Esse anel central vai ser comprimido alguns centímetros e terá uma forma estranha com um certo número de arestas. Isso é basicamente a Física do que está a acontecer”, disse Yadav.
“Temos estas tempestades mais pequenas e elas estão basicamente a beliscar as tempestades maiores na região polar e, como precisam de coexistir, precisam de encontrar um espaço para abrigar cada sistema. Com isso, acabam por fazer essa forma poligonal”.
Por outro lado, o modelo não produziu uma forma hexagonal, mas um polígono de nove lados. No entanto, os investigadores acreditam que a forma geométrica ainda afirma a sua tese geral sobre como a tempestade se forma.
O ponto hexagonal de Saturno foi visto pela primeira vez na década de 1980, quando as espaçonaves Voyager sobrevoaram o planeta na sua jornada em direção ao Sistema Solar exterior. A missão Cassini-Huygens também capturou mais dados durante a sua recente missão a Saturno e o seu sistema, que terminou em setembro de 2017.
Em 2018, dados da espaçonave Cassini revelaram que Saturno também tem uma tempestade hexagonal no pólo sul.
Este estudo foi publicado em junho na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.