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Príncipe belga rejeita que Leopoldo II tenha feito sofrer população do Congo

Stephanie Lecocq / EPA

O príncipe Laurent da Bélgica, irmão mais novo do atual rei Filipe dos Belgas, disse que não acredita que o rei Leopoldo II (1835-1909), considerado responsável por milhões de mortes no Congo, “tenha feito sofrer a população” daquele país.

Numa entrevista ao jornal local Sudpresse citada esta sexta-feira pela agência belga de notícias, o príncipe adiantou que Leopoldo II nunca esteve pessoalmente na atual República Democrática do Congo, pelo que não compreende as acusações dirigidas ao antigo rei da Bélgica.

“Devem saber que houve muitas pessoas que trabalharam para Leopoldo II e que realmente abusaram, mas isso não significa que Leopoldo II tenha abusado. Ele nunca foi pessoalmente ao Congo, por isso não vejo como ele poderia fazer sofrer as pessoas de lá”, disse Laurent.

O príncipe disse também que “pede sempre desculpa” pelas ações dos europeus quando se reúne com chefes de Estado africanos.

As declarações do irmão mais novo do rei Filipe surgem no meio do debate na Bélgica sobre a “descolonização do espaço público”, com a remoção de algumas estátuas de Leopoldo II de locais públicos, nomeadamente universidades, e atos de vandalismo contra estas esfinges.

Uma estátua do rei Balduíno, tio do atual monarca e do príncipe Laurent, falecido em 1993, apareceu também coberta de tinta vermelha no centro histórico de Bruxelas.

 

Estátua de Churchill coberta por tábuas

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, considerou esta sexta-feira “absurdo e vergonhoso” que a estátua de Winston Churchill tenha sido coberta com tábuas de madeira para evitar ser vandalizada por “manifestantes violentos”.

Numa série de oito mensagens na rede social Twitter, o primeiro-ministro disse que a estátua da Praça do Parlamento, em Londres, de homenagem ao líder britânico durante a Segunda Guerra Mundial “é uma recordação permanente do seu feito ao salvar este país — e toda a Europa — de uma tirania fascista e racista”.

“É absurdo e vergonhoso que este monumento nacional esteja hoje em risco de ser atacado por manifestantes violentos. Sim, ele às vezes expressou opiniões que eram e são inaceitáveis para nós hoje, mas ele foi um herói e merece o memorial”, acrescentou Johnson, atacando aqueles que procuram “censurar o nosso passado”.

Para o primeiro-ministro, as manifestações do movimento “Black Lives Matter”, que têm ocorrido e deverão continuar no fim de semana, foram “lamentavelmente apropriados por extremistas com o objetivo de causar violência”.

“Os ataques à polícia e os atos indiscriminados de violência que testemunhámos na semana passada são intoleráveis e abomináveis”, vincou Johnson, apelando às pessoas para não participem nos protestos.

Movimentos de extrema-direita anunciaram a intenção de se concentrar este fim de semana em torno de uma estátua de Winston Churchill, onde a palavra “racista” foi escrita no fim de semana passado durante protestos anti-racistas.

No seguimento da morte do norte-americano George Floyd e das manifestações que se lhe seguiram, vários monumentos têm sido vandalizados e derrubados em cidades dos Estados Unidos, mas também na Europa, por serem associados ao racismo e a períodos da escravatura por alguns movimentos.

A união dos municípios de Bournemouth, Christchurch and Poole decidiu na quarta-feira à noite remover temporariamente a estátua do fundador do escutismo, Robert Baden-Powell, após ter sido identificada numa lista de potenciais alvos de manifestantes anti-racismo.

No domingo passado, uma multidão derrubou e atirou para as águas do porto de Bristol a estátua do comerciante de escravos do século XVII Edward Colston, mas o monumento foi já recuperado pela autarquia para que possa ser colocada num museu.

Na segunda-feira, a estátua de outro esclavagista do século XVIII, Robert Milligan, foi removida de Londres na sequência de uma petição popular.

Outros monumentos, como uma estátua do imperialista Cecil Rhodes, na universidade de Oxford, e a estátua do fundador da polícia britânica Robert Peel na praça central de Manchester, são alvo de controvérsia.

Em Lisboa, foi vandalizada, na quinta-feira, a estátua do Padre António Vieira no Largo Trindade Coelho. O conjunto de esculturas, que inclui uma do padre António Vieira e outras de três crianças, foi pintado com tinta vermelha, tendo sido igualmente escrita a palavra “Descoloniza” na base do monumento.

Os danos em monumentos configuram crime público e o processo foi enviado ao Ministério Público.

ZAP // Lusa

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