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Belgas retiram estátua do famigerado Leopoldo II. Os ingleses questionam os seus heróis

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Stephanie Lecocq / EPA

Estátua do rei Leopoldo II no Africa Museum, em, Tervuren vandalizada com tinta vermelha

Uma estátua do rei dos belgas Leopoldo II, figura controversa do passado colonial da Bélgica, foi retirada, na terça-feira, de uma praça pública em Antuérpia e transportada para um museu local.

A retirada acontece dias depois de a estátua ter sido vandalizada no âmbito de protestos contra o racismo que juntaram milhares de pessoas em várias cidades belgas em homenagem a George Floyd.

O rei Leopoldo II (1835-1909) é há muito tempo uma figura polémica na Bélgica pelos excessos do seu governo no antigo Congo belga, actual República Democrática do Congo.

O soberano escravizou a população e submeteu-a a grande violência, havendo historiadores que apontam para a morte de cerca de 10 milhões de pessoas devido à violência, fome, exaustão e doenças.

Na Exposição Universal de Bruxelas de 1958, Leopoldo II chegou mesmo a aprovar a exibição de um “zoológico humano” com homens, mulheres e crianças do antigo Congo.

A polémica em torno do monarca reacendeu-se com o caso George Floyd, o norte-americano negro que morreu asfixiado sob os joelhos de um polícia branco, no final de Maio, nos Estados Unidos. Seguiram-se manifestações contra o racismo em várias cidades do mundo, incluindo na Bélgica.

Nas últimas semanas, várias estátuas de Leopoldo II foram vandalizadas – uma foi coberta de tinta no Museu de África em Tervuren, na Flandres- e foi lançada uma petição para a retirada de Bruxelas das estátuas e bustos do antigo rei. A petição recolheu em poucos dias 53 mil assinaturas.

Este mês, os partidos maioritários no parlamento belga pediram ao governo a criação de um grupo de trabalho para a “descolonização” do espaço público, através da revisão da toponímia relacionada com a história colonial do país.

Em Antuérpia, a estátua retirada esta terça-feira estava perto de uma igreja e tinha sido vandalizada na semana passada. A sua remoção do local já estava prevista no âmbito de uma remodelação da praça, mas a transferência para o Museu Middelheim foi antecipada e provavelmente não voltará a ser lá colocada, reconheceu o presidente da câmara, Koen Palinckx.

Em tempo de protestos anti-racistas, também o Reino Unido reavalia os seus heróis, nota o jornal Público. Os protestos fizeram questionar monumentos e até figuras incontornáveis, como o antigo primeiro-ministro Winston Churchill.

Numa das estátuas de Churchill em Londres, junto ao Parlamento, apareceu durante uma das manifestações, escrita a grafite, a frase “era um racista”. Embora seja considerado um herói da II Guerra Mundial, Churchill era um firme defensor do Império Britânico e expressou pontos de vista racistas.

No passado domingo, em Bristol, também a estátua do comerciante de escravos do século XVII Edward Colston, foi derrubada, arrastada pelas ruas e lançada para as águas do porto da cidade.

A estátua de Colston (1636-1721), um benfeitor da cidade que obteve a sua riqueza com o comércio e a exploração de escravos, já tinha sido objeto de controvérsia anteriormente, tendo um cidadão pedido anteriormente a sua remoção.

Por outro lado, activistas da Universidade de Oxford pedem a remoção de uma estátua de Cecil Rhodes, imperialista vitoriano na África do Sul que fez fortuna nas minas e financiou bolsas de estudo na universidade. Na estátua foi colocada a faixa “Rhodes, tu és o próximo”.

Em Edimburgo, na Escócia, surgiram também nos últimos dias pedidos para remover uma estátua de Henry Dundas, político do século XVIII que atrasou a abolição britânica da escravatura durante 15 anos.

ZAP // RFI / Lusa

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