O secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP) disse este domingo que os 850 milhões de euros transferidos recentemente para o Novo Banco davam para “resolver metade dos problemas sociais que neste momento existem”.
“Tantas vezes nos dizem que não há dinheiro para acudir aos problemas dos trabalhadores e do nosso povo, mas a verdade é que nunca falta para acudir à banca, como aconteceu há dias, com a transferência para o Novo Banco de mais de 850 milhões de euros”, apontou Jerónimo de Sousa num discurso no largo do cemitério de Baleizão, concelho de Beja, após uma homenagem a Catarina Eufémia, assassinada há 66 anos pelas forças do regime fascista.
O líder comunista apelidou a situação de “inaceitável” e sublinhou que a resolução dos problemas sociais não é concretizada porque “a preferência foi injetar mais 850 milhões de euros na banca”, aproveitando para voltar a apelar para que se “inicie de imediato a integração do banco na esfera pública”, conforme proposto num projeto de lei apresentado pelo PCP, na Assembleia da República, na sexta-feira.
O Novo Banco recebeu um empréstimo público de 850 milhões de euros. António Costa garantiu que não haveria mais ajudas até que os resultados da auditoria ao banco fossem conhecidos. O primeiro-ministro não sabia da transferência e pediu desculpas pelo engano. O pedido para a transferência terá chegado ao Ministério das Finanças em abril, recebendo o aval do gabinete de Mário Centeno.
Perante cerca de meia centena de militantes, estrategicamente colocados à distância recomendada pelas normas da Direção Geral da Saúde para o combate à pandemia de covid-19, Jerónimo de Sousa aproveitou, também, para criticar “os grandes interesses do capitalismo reinante” que acusou de desencadear a “ação terrorista contra as iniciativas da CGTP e do 1.º de maio”.
“Não foi inocente, nem a sua preocupação era ou é a saúde dos trabalhadores. Se tivessem nas suas empresas, onde se nota as consequências do surto epidémico, cumpram as normas de segurança e higiene, as condições sanitárias lá nas empresas, nos locais de trabalho, e teriam fortes razões para se preocupar tendo em conta a situação”, atirou o líder do PCP, em alusão ao surto de covid-19 no que, segundo o balanço de sexta-feira, afetava já 81 trabalhadores de três empresas do polo industrial da Azambuja.
Jerónimo de Sousa insistiu que “não é por razões sanitárias” que não queriam “que se comemorasse o 25 de abril, que maio fosse uma jornada de luta ou que se realizasse a festa do Avante!”, em setembro.
“É porque à sombra do vírus, que mata e preocupa tantos portugueses legitimamente, querem que, em silêncio, se liquidem centenas de milhares de postos de trabalho, que se desregulamente os direitos dos trabalhadores e o direito a ter direitos, que ameaça hoje tantos e tantos”, referiu.
A finalizar, Jerónimo de Sousa voltou a apontar a mira às “empresas com lucros milionários” para as quais se transferem “milhares de euros públicos” e tocam “insistentemente o riscado disco das necessidades e dos sacrifícios”.
“Muitas delas são grandes empresas multinacionais. São as grandes empresas que beneficiaram de mais de 50% do expediente de lay-off. É para fazer frente a esta situação que o PCP, entendendo o sentimento, necessidade e aspirações dos trabalhadores e do povo, procurou por todos os meios reclamar a resolução dos seus problemas, assumindo uma atitude proposta no quadro da Assembleia da República com esse objetivo”, concluiu Jerónimo de Sousa.
O “Grande Confinamento” levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a fazer previsões sem precedentes nos seus quase 75 anos: a economia mundial poderá cair 3% em 2020, arrastada por uma contração de 5,9% nos Estados Unidos, de 7,5% na zona euro e de 5,2% no Japão.
Para Portugal, o FMI prevê uma recessão de 8% e uma taxa de desemprego de 13,9% em 2020 e Bruxelas estima uma contração da economia de 6,8%, menos grave do que a média europeia, mas projeta uma retoma em 2021 de 5,8% do PIB, abaixo da média da UE (6,1%) e da zona euro (6,3%).
ZAP // Lusa