O Barcelona atravessa um período conflituoso e o lugar de Josep Maria Bartomeu na presidência está cada vez mais em risco devido a acusações de corrupção.
Esta é, certamente, uma altura complicada para todos os clubes de futebol. Em plena pandemia de covid-19, as equipas sofrem duros golpes devido à interrupção das competições. Mas a crise não está a afetar todos homogeneamente, havendo uns que sentem mais na pele a conjuntura do que outros. O Barcelona é um desses casos.
E nem tudo tem a ver com o novo coronavírus. Aliás, poucos dos problemas do Barcelona têm a ver com isso. Sem a distração dos jogos e dos típicos brilharetes de Lionel Messi, as atenções viram-se para a má gestão do clube e para as brigas internas entre administração e jogadores.
Na semana passada, seis diretores do clube demitiram-se, entre os quais Emili Rousaud, que tinha sido nomeado vice-presidente do emblema ‘blaugrana’ apenas um mês antes. Rousaud é visto como um dos principais sucessores a Josep Maria Bartomeu na presidência do Barça.
O vice-presidente demissionário deixou o clube, mas não em silêncio. Rousaud sugeriu que alguém no clube “estava com a mão na caixa registadora”, uma alegação explosiva de corrupção. O clube ameaçou com um processo legal, mas segundo a Sports Illustrated, não deverá avançar para tribunal. Isto porque “é difícil acreditar que desejaria o escrutínio de um processo judicial que colocaria o escândalo da I3 Ventures em destaque público”.
Em causa estão as suspeitas de que o Barcelona pagou a uma empresa que gere “contas-fantasma” nas redes sociais para difamar alguns jogadores, entre os quais Lionel Messi.
As publicações tinham como objetivo “proteger a imagem” de Josep Maria Bartomeu e da restante direção. As contas nas redes sociais criadas pela I3Ventures.sl não são consideradas oficiais, embora sejam financiadas pelo Barcelona.
Bartomeu negou as acusações e disse que são “completamente falsas”, embora o seu conselheiro mais próximo, Jaume Masferrer, tenha sido suspenso, aguardando investigação.
O problema do Barcelona alastra-se também a alguns dos seus recentes negócios. Os adeptos não perdoam a venda de Neymar ao Paris Saint-Germain, há três anos, e as compras inflacionadas de Ousmane Dembélé e Philippe Coutinho contribuem para a contestação à atual direção.
É também importante lembrar que o Barcelona despediu Ernesto Valverde, em janeiro, embora o clube ocupasse o lugar cimeiro da La Liga. Xavi, Ronald Koeman e Mauricio Pochettino rejeitaram as propostas para assumir o cargo de treinador e deixaram o clube à deriva na procura por um substituto. Quase em desespero, o clube recorreu à contratação de Quique Setién.
Em entrevista ao Sport, o diretor desportivo e antigo jogador do Barcelona Éric Abidal responsabilizou o plantel do Barcelona pela saída de Ernesto Valverde do comando técnico do clube. O francês apontou o dedos aos jogadores, acusando-os de não se esforçarem nos treinos por estarem descontentes com o treinador.
“Muitos jogadores não estavam satisfeitos nem trabalharam muito e também houve um problema de comunicação interna. A relação treinador-plantel sempre foi boa, mas há coisas que como ex-jogador posso ‘cheirar’. Comuniquei ao clube o que pensava e tinha de ser tomada uma decisão”, disse Abidal, na altura.
A contratação de Martin Braithwaite, em janeiro, também foi motivo de críticas de vários clubes e personalidades. Face às lesões de Suárez e Dembélé, o Barcelona pediu uma autorização inédita à La Liga para contratar um jogador fora do período do mercado de transferências. Os ‘culés’ acabaram por pagar um preço altamente inflacionado pelo avançado dinamarquês do Leganés.
Agora, com a pandemia de covid-19, o Barcelona avançou unilateralmente com um corte salarial. Os jogadores ficaram furiosos e pediram satisfações e garantias de como o dinheiro poupado seria gasto.
Os atletas acabaram não só por concordar com um corte de 70%, mas também com 2% adicionais para financiar os salários de todos os funcionários e staff, que de outra forma poderiam ter sido demitidos. Novamente, o clube perdeu a guerra de relações públicas.