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Varoufakis: Centeno foi “vergonhoso” e vai trazer austeridade pior do que em 2011

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Olivier Hoslet / EPA

Yanis Varoufakis durante uma reunião do Eurogrupo

Varoufakis descreveu o desempenho de Mário Centeno como presidente do Eurogrupo em apenas uma palavra: “vergonhoso”. O grego antecipa uma austeridade pior do que em 2011.

Yanis Varoufakis, antigo ministro das Finanças grego, foi uma das principais figuras do Governo de Alexis Tsipras, em 2015, confrontando a troika e exigindo a reestruturação da dívida do país. Em entrevista à TSF, Varoufakis deixou duras críticas ao desempenho de Mário Centeno como presidente do Eurogrupo.

A seu ver, o pacto de mais de 500 mil milhões de euros para enfrentar as consequências da pandemia de covid-19 é “o início da desintegração europeia”. O principal problema é que este fundos são quase só empréstimos. O grego entende que, por isso, os eurobonds eram uma melhor opção, já que constituem uma reestruturação da dívida e partilham-na com todos os países.

“O valor faz dó. O resto do mundo está a rir-se da Europa, e com razão. É só 0,2% do PIB da zona euro. O resto é empréstimos, e os empréstimos são inúteis. Um problema de bancarrota não se resolve com empréstimos e é esse o problema que enfrentamos”, lamentou o ex-ministro grego.

É perante isto que Varoufakis resume o desempenho de Mário Centeno como presidente do Eurogrupo numa só palavra: “vergonhoso”. Em causa está o facto do ministro das Finanças português ter arranjado um “não-acordo” que vai atirar a Europa para uma austeridade pior do que em 2011.

“Ele devia baixar a cabeça com vergonha por ter arranjado este não-acordo. Se esta não fosse uma situação trágica seria uma piada”, atirou.

Além disso, Varoufakis acredita que a palavra solidariedade já não tem significado na Europa. “Os resgates a Portugal e à Grécia foram disfarçados de solidariedade. E foram solidários: com o Deutsche Bank e com a Societé Generale, porque o dinheiro que foi para os países acabou por servir para pagar dívidas que bancos franceses e alemães acumularam em 2008 nos Estados Unidos”, explicou.

“Se a Itália sair, saímos todos”

O economista traça também um destino negro para a Zona Euro, antecipando que esta crise pode levar ao seu fim. O caso de Itália, por exemplo, é gravíssimo: “Matteo Salvini vai cavalgar para o poder e garanto que a primeira coisa que vai fazer é um plano para a Itália sair do euro. E se a Itália sair, saímos todos”.

Varoufakis prevê que o rácio de dívida sobre o PIB italiano vai aumentar rapidamente e, no próximo ano, Bruxelas vai obrigar a implementar um programa de austeridade de 11% do PIB. “Qualquer governo que tenha de implementar um programa assim vai para a rua rapidamente”, salienta.

Questionado sobre os campos de refugiados na Grécia e a forma como os países estão a lidar com o problema, o ex-ministro grego foi impiedoso: “O governo grego tem sido desprezível. Tem tratado os refugiados como sub-humanos. Não fez nada para lhes dar condições”. Varoufakis sugere que acabem com os campos e os coloquem nos hotéis, que estão vazios.

“Mesmo sem o coronavírus, eles já morriam por viverem em condições terríveis. Com covid-19 é uma catástrofe”, atira.

ZAP //

22 Comments

    • É verdade, é tão bom economista que não se aguentou e não arranjou qualquer tipo de solução viável para resolver o problema da Grécia.
      Agora anda pelo mundo fora a mandar umas bocas sempre a difundir a mesma mensagem: endividem-se para a frente de depois não paguem a dívida!
      Queria ver se fizesse-mos todos o que ele diz, onde é que o mundo ia parar! Eu deixava já de trabalhar, entre não ganhar ou ainda ficar com as despesas e os calotes dos clientes…! Estes palhaços têm cá uma falta de noção!

      • O sr. “A” devia ler o livro dele “O Minotauro Global”. Talvez ficasse com outra compreensão de como funcionam “os mercados”.

  1. Infelizmente, o tipo tem razão.

    O MEE traz consigo a troika e a austridade, ainda que os nossos políticos andem por aí a dizer que não.
    Registem as palavras, guardem as notícias e as páginas dos jornais, porque vamos divertir-nos – mais uma vez – a recordar estes momentos, quando acontecer o exacto contrário do que agora afirmam.

    • Não tenho dúvidas sobre a onda de austeridade, que vai salpicar os cidadãos deste país. E quem disser o contrario mente, ou é atrasado mental. O que nos vai valer, talvez, enquanto país, é o facto de estarmos em situação idêntica à outros países, atingidos pela pandemia que tira o sono a muitos. O problema a destacar, associado à austeridade, situa-se no âmbito do crescimento económico – a austeridade, ao retirar poder de compra aos cidadãos, atrasa a recuperação do país na medida em que parte substancial do PIB resulta do consumo das famílias e das empresas. Isto é um facto! Agora, se regressam os limites ao endividamento público e aos defices das contas públicas, o problema do crescimento torna-se bem mais grave e vai atrasar a recuperação da economia. Vamos ver se há criatividade adequada, nas medidas restritivas que serão aplicadas no país.

  2. O enorme rombo financeiro nas contas do Estado Português só poderá ser pago com impostos no futuro. Como nós, ao contrário de outros, não poupámos para os momentos difíceis teremos de nos endividar. Logo, no futuro teremos de pagar a dívida (atualmente já gigantesca).
    Para ser possível pagar a dívida, teremos de novo a austeridade. Pode até nem ser na “dose” anterior caso a conjuntura económica internacional recupere bem e volte ao que estava no final do ano passado. Se assim for o aumento das receitas fiscais, conjuntamente com um pequeno apertão nos gastos do Estado, até dará para libertar muito dinheiro para pagar a dívida. Se a conjuntura internacional estiver muito adversa o cenário poderá ser de austeridade em linha com o que já tivemos no passado. Não depende muito de nós.

  3. Este senhor já é conhecido como um grande mentiroso, um fingido que se travestiu na pele de defensor dos coitadinhos quando a vida dele é de luxo. Foi a sua falta de credibilidade que levou o Tsipras a chutá-lo do governo e anda ressabiado. Ter ideias próprias não é condenável, o que não se pode aceitar é que vem vomitar todas as suas frustrações com insultos, sobretudo a quem competentemente deu provas concretas. A sua vaidade oca pode ser apenas um disfarce para muita incompetência. Proclamar-se bom não chega, é preciso que isso possa ser provado, pois não fora o Tsipras ter acordado a tempo ainda hoje a Grécia estava à braços com um resgate para resolver.

  4. Não é difícil a qualquer um apontar os grosseiros erros que se têm cometido na Europa e possivelmente como ele diz poderemos estar à beira do fim disto tudo, no entanto este também era dos tais que pensavam que as dívidas não eram para pagar, que tudo se poderia fazer e exigir e que depois era só apresentar a factura aos outros, o Tsipras também entrou com a mesma arrogância, mas depressa se juntou ao rebanho com largos sorrisos nos lábios, de incompetentes e irresponsáveis parece estar a Europa infestada e agora temos aí o resultado bem visível de uma globalização e não só imponderadas.

  5. Varoufakis é de facto um grande orador ou palrador mas de fazedor não tem nada. A verdade é só uma, a crise vai vir e os países menos gastadores ou melhor geridos sofrerão menos do que os países endividados, ora esses países bem geridos dificilmente irão aceitar responsabilizar-se pela divida de países mal geridos. o mesmo acontece aos cidadãos ou seja nunca aceitaria ser fiador de um colega de trabalho que cronicamente anda nas lonas. A única forma de superar essa divergência talvez criar uma espécie de rendimento mínimo ao qual os países poderão recorrer para tentarem recuperar e de certa forma igualarem-se aos outros, dinheiro esse proveniente de impostos.

  6. Se austeridade houver, e inévitablement haverá; Não será só para Portugal, e a culpa será desta Calamidade Mundial e não do Ministro X ou Y. A Grécia viu-se Grega com este Grego (a não esquecer) !

  7. A inveja é tramada mas este Sr. não deixa de ter razão. Não existe uma Europa unida e solidária e existe sim uma grande desunião muito motivada por alguns países como a Holanda. Cá por mim, seria uma boa hipótese a pôr na mesa afastar a Holanda da Europa já que esta apenas quer colher os benefícios e quando chega a hora de contribuir vira as costas aos parceiros Europeus.

  8. Por ZAP -9 Fevereiro, 2016
    “O ex-ministro das Finanças grego afirmou esta terça-feira que os portugueses não vão ser capazes de ultrapassar a austeridade imposta por Bruxelas”.
    Face às declarações de 17 Abril, 2020 proferidas por Yanis Varoufakis,será que também posso dizer : Isto é vergonhoso!

  9. Discordo, Centeno fez o melhor, fez o que o deixaram fazer. Todos sabemos qual a posição de todos os países do Sul da Europa mas também todos sabemos a posição de uns poucos países mais ricos. Por isso se a Europa não tomar cuidado, dentro de pouco tempo teremos outros “brexit” sem dúvida como foi dito por o grego. Se Itália sair muitos se seguirão. E se a Europa “abandonar” os países do Sul não sei até que ponto valerá continuarmos com a UE e Euro. Ou damos uma resposta Unida ou mais vale cada um ir à sua vida…

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