A agência de notação Moody’s desvalorizou uma eventual saída do ministro das Finanças, Mário Centeno, do Governo, considerando que o rating de Portugal não depende de personalidades, mas antes das políticas que são aplicadas.
“O perfil de crédito de um país não depende de personalidades”, afirmou esta sexta-feira ao Jornal de Negócios Sarah Carlson, vice-presidente sénior do Sovereign Risk Group da Moody’s, à margem de uma conferência anual da agência que decorreu em Lisboa.
A especialista sublinhou que, “para um país que tem instituições fortes, como vemos no caso de Portugal, as entradas ou saídas de indivíduos do Governo não é algo que deverá afetar o perfil”, disse, dando conta que o que realmente importa são as políticas.
“Importantes, na realidade, são as políticas que quem está no cargo apresenta e os resultados dessas medidas”, sublinhou Sarah Carlson.
Em entrevista ao Negócios, Sarah Carlson disse que a Moody’s também vê como provável um excedente orçamental em 2020, mas de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB), mais baixo do que a projeção oficial do Governo (0,2%). “Será o primeiro excedente desde o fim da ditadura, portanto é claramente um ‘positivo’ para o perfil de crédito”, referiu.
A Moody’s tem a dívida soberana portuguesa classificada em Baa3, com perspetiva positiva, isto é, no primeiro patamar de grau de investimento. Esta notação encontra-se um nível abaixo dos ratings atribuídos pela Standard & Poor’s e pela Fitch, de BBB.
Estará Centeno de saída?
Apesar de o responsável das Finanças de António Costa ainda não ter revelado nada sobre o seu futuro no Executivo socialista e, consequentemente, na presidência do Eurogrupo, os rumores de que deixará o seu cargo como ministro para rumar para a liderança do Banco de Portugal (BdP) ganham cada vez mais força.
Neste domingo, Luís Marques Mendes adiantou no seu habitual espaço de comentário da SIC que Centeno já se despediu, ainda que de forma informal, do Eurogrupo.
O governante terá já dito aos seus colegas ministros das Finanças da Zona Euro que não se recandidatará à presidência do Eurogrupo. Quanto ao futuro de Mário Centeno, Marques Mendes não tem dúvidas: vai para o Banco de Portugal dentro “de alguns meses”.
O mandato de Carlos Costa no BdP termina a 10 julho deste ano. Três dias depois, recorde-se, Mário Centeno chega ao fim do seu mandato na liderança do Eurogrupo.
Uma eventual saída do Governo implica que Centeno deixe também cair uma eventual recandidatura ao Eurogrupo, uma vez que para ocupar este cargo é necessário que o candidato seja ministro das Finanças de um país da Zona Euro.
Mário Centeno entregou o seu quinto Orçamento do Estado na semana passada, recusando precisar se o OE2020 seria o seu último. Em entrevista à RTP, disse estar “totalmente focado” nas suas funções governativas, não adiantando mais sobre o seu futuro.
“Neste momento, estou Ministro das Finanças. É exatamente isso que me importa, amanhã continuarei o meu trabalho (…) O até quando, nas nossas vidas, e em particular nestas funções de político é um exercício de adivinhação”, considerou.
Em dezembro, numa entrevista ao semanário Expresso, Mário Centeno deixou a porta aberta ao Banco de Portugal, dizendo não encontrar nenhuma incompatibilidade se de Ministro das Finanças passar a ser Governador BdP.
“Isso está escrito em algum sítio do Tratado?”, questionou.
“Não vejo nenhum conflito de interesses. Dou dois exemplos: um dos vice-presidentes do BCE foi ministro das Finanças de Espanha. E o meu colega eslovaco também transitou das Finanças para o banco central. Estou só a dar exemplos”.