O uso regular de redes sociais pode afetar a saúde mental dos jovens. No entanto, os seus efeitos podem-se manifestar mais drasticamente em raparigas do que em rapazes.
Desde 2010, as taxas de depressão, automutilação e suicídio aumentaram entre os rapazes adolescentes. Porém, as taxas de depressão entre meninas adolescentes nos EUA aumentaram ainda mais – de 12% em 2011 para 20% em 2017.
As taxas de depressão começaram a aumentar assim que os smartphones se tornaram populares. A geração de adolescentes nascidos após 1995 – conhecida como Geração Z – foi a primeira a passar a adolescência inteira na era dos smartphones. Eles também são o primeiro grupo de adolescentes a experimentar as redes sociais como parte indispensável da vida social.
Obviamente, rapazes e raparigas começaram a usar smartphones na mesma altura. Então, porque é que as meninas estão a enfrentar mais problemas de saúde mental? Através da análise de três estudos com mais de 200.000 adolescentes nos EUA e no Reino Unido, uma equipa de investigadores encontrou algumas respostas.
Os ecrãs que usamos
Os investigadores descobriram que rapazes e raparigas adolescentes passam o seu tempo com os aparelhos eletrónicos de maneiras diferentes: os rapazes passam mais tempo a jogar, enquanto as meninas passam mais tempo nos seus smartphones, a enviar mensagens e a usar as redes sociais.
Jogos envolvem diferentes formas de comunicação. Os jogadores geralmente interagem entre si em tempo real, conversando entre si através de fones.
Por outro lado, as redes sociais geralmente envolvem mensagens com imagens ou texto. No entanto, mesmo algo tão simples como uma breve pausa antes de receber uma resposta pode provocar ansiedade.
Então, é claro, existe a maneira como a rede social cria uma hierarquia, com o número de ‘gostos’ e seguidores a exercer poder social. Tudo isso pode ser stressante, e um estudo descobriu que simplesmente compararmo-nos com outras pessoas nas redes sociais tornava-nos mais prováveis a ficarmos deprimidos.
E, diferentemente de muitas consolas, os smartphones são portáteis. Eles podem interferir na interação social cara a cara ou ser levados para a cama, duas ações que prejudicam a saúde mental e o sono.
As raparigas são mais suscetíveis?
Não é apenas o facto de raparigas e rapazes gastarem o seu tempo em atividades diferentes. Também pode ser que o uso das redes sociais tenha um efeito mais forte nas raparigas do que nos rapazes.
Estudos anteriores revelaram que os adolescentes que passam mais tempo nas redes sociais têm maior probabilidade de ficar deprimidos e infelizes. Agora, os investigadores descobriram que esse vínculo era mais forte entre raparigas do que entre rapazes.
Apenas 15% das raparigas que passavam cerca de 30 minutos por dia nas redes sociais estava infeliz, mas 26% das raparigas que passava seis horas por dia ou mais nas redes sociais relataram estar infelizes. Para os meninos, a diferença de infelicidade era menos percetível: 11% naqueles que passavam 30 minutos por dia e 18% naqueles que passaram mais de seis horas por dia.
A popularidade e as interações sociais positivas tendem a ter um efeito mais pronunciado na felicidade das raparigas do que na felicidade dos rapazes. As redes sociais podem ser um árbitro frio da popularidade e uma plataforma para bullying e disputas.
Além disso, as raparigas continuam a enfrentar mais pressão sobre a sua aparência, o que pode ser exacerbado pelas redes sociais. Por esses e outros motivos, as redes sociais são uma experiência mais carregada para raparigas do que para rapazes.
ZAP // The Conversation