Rúben Ribeiro e Gelson Martins foram ouvidos, esta sexta-feira, na 22.ª sessão do julgamento, que decorre no tribunal de Monsanto, em Lisboa.
“Sinceramente, pensei que ia morrer, foi um cenário de horror, estavam constantemente a dizer: ‘vamos matar-vos'”, disse Rúben Ribeiro, esta sexta-feira, na 22.ª sessão do julgamento.
O jogador, que depois do ataque rescindiu unilateralmente com o Sporting num processo que ainda não está resolvido, afirmou ter temido também pela estabilidade da família: “Quando cheguei a casa e deparei-me com a minha esposa e os meus filhos a chorar, principalmente o mais velho”.
Rúben Ribeiro, que se constituiu assistente no processo, explicou que no dia seguinte ao ataque, retirou os filhos do colégio e mandou a família para o Porto.
O médio, que foi ouvido por videoconferência a partir do tribunal de Matosinhos, afirmou inicialmente, quando questionado pela juíza, que alguns elementos do plantel terão dito aos restantes para não falarem com o então presidente, Bruno de Carvalho, afirmação que não confirmou quanto interrogado pelo advogado Miguel Fonseca, defensor do ex-dirigente.
“Depois do ataque, na sala de convívio o ‘mister’ ou o Rui Patrício, não me lembro qual, disseram para não falar com o presidente”, disse, numa primeira versão, afirmando, mais tarde, que “ninguém disse isso”.
Rúben Ribeiro explicou que “as cerca de 30 ou 40 pessoas” que entraram no balneário gritavam e insultavam os jogadores.
“Estavam a gritar, a dizer que nos iam matar. Chamavam-nos nomes e diziam: ‘Vocês não merecem vestir a camisola’ e ameaçavam que se não ganhássemos no domingo [final da Taça de Portugal] íamos ver o que nos acontecia”.
O futebolista explicou que os invasores “dirigiram-se primeiro ao Acuña, que foi agredido com socos na zona da cabeça”, disse ter “levado um estalo” e ter visto os companheiros Misic e William Carvalho serem agredidos, e ainda ferimentos “na cabeça de Bas Dost e no lábio e num dos olhos de Jorge Jesus”.
O futebolista, que depois de ter saído do Sporting esteve meses sem clube, referiu que quando iam a sair os agressores disseram: “vamos embora, vamos embora que isto deu para o torto”.
Durante a tarde foi ouvido Gelson Martins, que admitiu em tribunal ter recebido uma mensagem no telemóvel, que só leu posteriormente, a avisá-lo de que algo ia acontecer na academia em Alcochete, no dia da invasão.
“Recebi a mensagem a avisar que estavam a invadir a academia, mas, como não estamos sempre com o telemóvel, só a vi depois. Era de um amigo que passou junto da academia e viu o grupo de adeptos a aproximar-se”, disse o jogador, ouvido por Skype.
O médio, que alinha no Mónaco por empréstimo do Atlético de Madrid, mostrou alguma relutância em identificar o amigo que lhe enviou a mensagem, garantindo que já o tinha feito durante a fase de inquérito, mas acabou por fazê-lo a pedido da juíza.
Gelson, de 24 anos e que representou o Sporting durante sete, disse ter “sentido muito medo” e ficado “paralisado” quando a academia do clube foi invadida.
“Tive medo, paralisei perante a situação. Foi uma situação mesmo muito difícil, e acho que até hoje ainda sinto alguma dificuldade em lidar com isso, foi muito difícil para mim e para a minha família”, referiu, acrescentando: “depois daquilo, nunca andava sozinho na rua.”
Gelson Martins disse ter estado perto de Acuña, que foi agredido “com pontapés, socos e chapadas”, e lembrou que um dos agressores lhe disse para não ter medo, que não lhe ia acontecer nada.
“Quando estavam a bater no Acuña, estava um rapaz à minha frente, que não fez nada, e disse-me para eu ficar ao pé dele que não me ia acontecer nada. Como tinham todos a cara tapada não o reconheci”, disse.
Perante o coletivo de juízes, e depois de ter visto, a pedido da advogada Sandra Martins, a cara do arguido Domingos Monteiro, que descreveu “como um amigo da namorada”, disse que, “pela lógica”, só podia ter sido essa a pessoa que o protegeu.
O médio confirmou declarações anteriores de outros futebolistas e membros da equipa técnica de que os “seguranças tentaram fechar as portas, mas não conseguiram evitar a entrada do grupo” e que os agressores tinham como principais alvos Battaglia, Acuña, William Carvalho e Rui Patrício.
Gelson referiu ainda ter visto uma “tocha a atingir o preparador físico” e disse só se ter apercebido “do som do alarme de incêndio no final do ataque”.
O julgamento prossegue na próxima quarta-feira, 29 de janeiro, com as audições dos jogadores Piccini e Fábio Coentrão e o enfermeiro Carlos Mota.
Na sexta-feira, dia 31, deverão ser ouvidos André Geraldes, ex-team manager do Sporting, que aguarda resposta ao pedido para ser ouvido por videoconferência, e William Carvalho, atual jogador do Bétis e um dos capitães dos leões à data dos factos.
ZAP // Lusa