O Irão disparou mísseis em duas bases aéreas iraquianas que abrigam tropas norte-americanas, na primeira retaliação violenta pelo assassinato do general da Guarda Revolucionária Islâmica Qassem Soleimani. Mas a tensão entre os EUA e o Irão não é a única disputa que pode desencadear conflitos internacionais.
Mais de uma dúzia de mísseis foram lançados pelo Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica na noite de terça-feira, atingindo alvos militares em Ain Assad e Erbil, ação descrita como uma operação de vingança na sequência da morte de Soleimani.
O líder supremo do Irão, o ayatollah Ali Khamenei, alertou que o ataque não foi o fim da disputa. “Quando se trata de confronto, ações militares desse tipo não são suficientes. O importante é que a presença corrupta dos Estados Unidos termine”, disse, num discurso transmitido na televisão estatal iraniana, citada pelo Week.
As tensões crescem entre os dois países desde 2018, quando Trump anunciou que os EUA iam sair do acordo nuclear de 2015, intermediado pelo então Presidente Barack Obama. Um relatório norte-americano independente alertou que o cenário havia sido preparado para uma guerra total – com a decisão de Trump de cercar-se de radicais no seu governo.
Como relatou na altura o Independent, Israel e Arábia Saudita – países que pressionaram Trump a sabotar o acordo – “há muito instam Washington a tomar uma ação militar contra o Irão”, algo que parece cada vez mais provável após a morte de Soleimani.
Enquanto Washington e Teerão fazem ameaças, outras superpotências, como a Rússia e a China, podem ser arrastadas para o conflito, abrindo caminho para uma guerra global.
O ministro das Relações Externas da Rússia, Sergei Lavrov, expressou esta semana as suas condolências ao Ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Mohammad Javad Zarif, sobre a morte de Soleimani, revelou a Reuters. Lavrov “enfatizou que tais ações dos Estados Unidos violam grosseiramente as normas do direito internacional”.
A China, por sua vez, possui navios estacionados no Golfo de Omã e, recentemente, realizou exercícios navais conjuntos com o Irão e com a Rússia, aumentando a perspectiva de que Pequim também se possa envolver no conflito.
E com a Arábia Saudita já envolvida num conflito com os rebeldes houthis, apoiados pelo Irão no Iémen, “qualquer escalada de Teerão seria recebida com uma resposta de Riad”. Enquanto isso, o almirante Lord West, ex-oficial da Marinha Real, disse ao Daily Express que seria “muito difícil” para o Reino Unido ficar de fora de uma possível guerra.
Mas tensão entre os EUA e o Irão não é a única disputa que pode desencadear conflitos internacionais. Recentemente, o Reino Unido teve uma questão diplomática com o Irão, depois que Teerão tentou provar o seu poder militar no Estreito de Ormuz.
A apreensão do Stena Impero pelo Irão, que decorreu no verão passado no Golfo Pérsico, aconteceu semanas depois de a Grã-Bretanha ter ajudado a capturar o petroleiro Grace 1, em Gibraltar. O governo britânico alegou que o navio iraniano estava a transportar petróleo para a Síria, violando as sanções da União Europeia (UE).
As tensões também estão a aumentar no mar da China Meridional, entre os EUA e a China. Pequim vê a extensão da costa do leste da Ásia como território soberano, enquanto Washington considera “a militarização da região pela China como uma violação das regras internacionais”, informou o National Interest.
Já as tensões entre a Rússia e a Ucrânia atingiram o ponto de ebulição em outubro de 2018, quando o então Presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, manifestou as suas preocupações sobre uma possível “guerra em larga escala” com a Rússia, após a apreensão de três navios da Ucrânia no Mar de Azov.
O Guardian relatou que, depois de abrir uma ponte sobre o estreito de Kerch, a Rússia passou gradualmente a controlar toda a área, causando “graves danos económicos” aos portos comerciais ucranianos.
Para o chefe do exército britânico, o general Mark Carleton-Smith, “a Rússia representa hoje, indiscutivelmente, uma ameaça muito maior à nossa segurança nacional do que ameaças extremistas islâmicas como a Al-Qaeda ou o ISIS”.