O jornal britânico Financial Times publicou esta sexta-feira um trabalho de análise ao ‘bestseller’ “Capital no Século XXI”, do francês Thomas Piketty, no qual alerta para uma série de erros em cálculos e entradas de dados no Excel.
“Os dados sobre os quais assenta o livro, de 577 páginas, do professor Thomas Piketty, que tem dominado as listas de mais vendidos nas semanas recentes, contém uma série de erros que distorcem as suas descobertas. O FT encontrou enganos e entradas por explicar nas suas bases de dados, semelhantes aos que no ano passado minaram o trabalho sobre dívida pública e crescimento de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff”, escreve o jornalista Chris Giles, que assina a peça.
Numa resposta publicada na íntegra pelo jornal, Piketty, que se tornou numa sensação mundial aplaudida por figuras como o Nobel da Economia Paul Krugman, agradece a atenção atribuída às bases de dados que disponibilizou na íntegra na Internet e admite que “se o FT apresentar estatísticas e listas de riqueza mostrando o oposto [das suas descobertas]”, terá “todo o interesse em ver essas estatísticas” e mudar a sua conclusão.
Krugman, um dos primeiros a analisar o livro de Piketty num texto para a New York Review of Books, explicava que “a grande ideia de ‘Capital no Século XXI’ não é que se esteja a regredir para um nível de desigualdade salarial semelhante ao do século XIX, mas que também se está a assistir a um caminho de volta ao ‘capitalismo patrimonial’, em que os elementos de comando da economia são controlados não por indivíduos talentosos, mas por dinastias familiares”.
O Financial Times refere ter descoberto “erros de transcrição simples [‘fat-finger’], técnicas de médias subótimas, múltiplos ajustes aos números sem explicação, entradas de dados sem fontes, uso inexplicado de períodos diferentes e usos inconsistentes de fontes”.
Desta forma, o diário considera ter encontrado informação suficiente para contrariar a tese do professor da Paris School of Economics de que o sistema económico atual está a assistir a uma concentração de riqueza junto dos indivíduos de maiores posses.
Piketty realça que as suas próprias estimativas sobre a concentração de riqueza não tomam em conta os ativos existentes em ‘off-shores’, pelo que “provavelmente erram por baixo”.
O livro de Piketty, publicado em França em setembro e em inglês em março, já vendeu mais de 200.000 exemplares só nesta última língua, mesmo sem estar disponível nas livrarias do Reino Unido.
/Lusa