A líder parlamentar do Partido Popular, Cayetana Álvarez de Toledo, admite uma grande coligação com o PSOE se nenhum partido tiver maioria absoluta nas eleições que decorrem a 10 de novembro e se houver uma rutura entre os socialistas e os nacionalistas.
Num encontro com jornalistas estrangeiros em Madrid a dirigente popular mostrou-se partidária desta solução “se o PSOE fizer na Catalunha o que nunca fez, abandonar as alianças com o nacionalismo reacionário”, noticiou o Diário de Notícias.
Uma condição “fundamental para fazer uma grande coligação, disse Cayetana Álvarez de Toledo, que concorre às legislativas antecipadas como primeira da lista por Barcelona.
Apesar disso, ressalvou, não acredita que o partido de Pedro Sánchez siga esse caminho de rutura, uma vez que em Navarra “optou pelo nacionalismo”. Em seu entender, o Partido Socialista Catalão (PSC) “é uma parte sistemática desse problema”.
A líder parlamentar do partido dirigido por Pablo Casado lembra que o problema de ordem pública que se está a viver na Catalunha tem a peculiaridade de “à frente dos protestos estar o presidente da Generalitat” Quim Torra.
A leitura que faz do comportamento do governo do PSOE em relação à questão catalã é que “tenta isolar Torra para tentar manter os acordos com o separatismo com vista às próximas eleições. Querem fazer de Quim Torra o mau”.
Depois destes dias intensos na Catalunha, as últimas sondagens dão uma subida ao PP e uma queda do PSOE (com vitória clara dos socialistas) e, por isso, Cayetana Álvarez de Toledo pergunta-se se não foi um erro do PSOE convocar novas eleições antecipadas. “Os espanhóis vão poder expressar-se com mais clareza, como ele pediu, e isso pode acabar mal para o PSOE”.
Em seu entender, “o nacionalismo foi considerado a vanguarda da modernidade e da moderação e a consequência política é o que se está a viver neste momento. Trata-se o nacionalismo como uma força moderada e não é. É uma força perigosa porque leva à exclusão do outro”.
Cayetana Álvarez de Toledo considera todos os governos da Democracia espanhola cometeram o mesmo erro: “não ver ou não querer ver” o que estava a fazer Jordi Pujol. Este, diz, pôs “a funcionar o seu plano para tornar nacionalista a comunidade e afogar a outra metade da sociedade que não sentia isso”. Lamenta que “o poder central de Madrid tenha delegado poder, competências, e quase superioridade moral ao nacionalismo”.
Para solucionar este problema, fala de um plano que nunca existiu: “a democratização da Catalunha”. Acredita que a “Catalunha está partida em duas partes. Com todo este problema aprendemos que existe outra metade, outra Catalunha e que o mito de um só povo é mentira”.
A líder parlamentar do PP, de 45 anos, pensa que vão ser necessárias medidas concretas para promover a outra metade da sociedade catalã “na qual existe muito medo”. Sobre a possível aplicação do Artigo 155.º da Constituição de Espanha (que permitiria suspender a autonomia da Catalunha), afirma que é “Torra [quem] tem o botão do 155.º [nas mãos]” e lembra que “o nacionalismo é proativo”.
Noutro encontro com a imprensa estrangeira, Íñigo Errejón, cabeça de lista do movimento Más País, também analisou a atualidade política, tendo o problema catalão concentrado igualmente grande parte da conversa.
“A Catalunha é um problema politico específico, mas também a manifestação de um problema que vem de longe, quando o Tribunal Constitucional cortou parte do Estatut. O sistema político espanhol ficou num beco e não se sabe como sair”, começou por sublinhar.
O fundador e ex-número dois do Podemos [entretanto desavindo com Pablo Iglesias] pensa que a sentença do Proces [condenação dos líderes envolvidos no referendo ilegal de 2017] chegou “no pior momento” e mostrou-se surpreendido com grau de violência vivida nas ruas de Barcelona.
“Nem o independentismo estava à espera disto”, afirmou. Íñigo Errejón, de 36 anos, acredita que existe uma maioria de catalães sensatos, mas não se conseguem fazer ouvir neste momento tão tenso.
O cabeça de lista do movimento Màs País espera um período de incertezas e lamenta que “muitos partidos políticos reconheçam em privado o que se deveria fazer mas não se atrevam a falar em público”.
De acordo com Íñigo Errejón, há consenso no pensamento de que é necessário “desinflamar” o problema, sabe-se que “vai levar muito tempo a resolver e não será uma solução nem rápida nem mágica” e será necessário que se sentem à mesma mesa “pessoas que não se entendem”.
Dito isto, Íñigo Errejón afirma não perceber que Pedro Sánchez não atenda ao telefone a Quim Torra “mesmo quando sabemos que isso não é a solução”. Palavras duras de Íñigo Errejón também contra a direita espanhola, porque considera que “deu a Catalunha como perdida”. Critica que os três partidos de direita – PP, Ciudadanos e Vox – se procure apenas o discurso mais duro para que exista mais violência e consigam, assim, mais votos.
Sobre o resultado eleitoral do dia 10 de novembro, sublinha o fato de todas as sondagens, até agora, darem a maioria dos votos a deputados da esquerda progressista, “inclusive sem contar com os nacionalistas catalães e bascos”. Lembra que a direita, para governar, deveria somar 176 votos porque “não tem outros partidos que queiram pactuar com eles”.
Contudo, foi prudente nesta análise. “Não sabemos como funciona o sistema eleitoral espanhol com seis partidos. É um sistema proporcional nas cidades e maioritário no campo”, referiu. Quer dizer, uma variação pequena em votos pode dar uma variação em deputados. Por esta razão, o Más País só vai estar presente em 18 províncias. “Aquelas onde vamos poder acrescentar ao bloco progressista. Foi um esforço inédito, pensámos no país antes de pensar no partido”.
Íñigo Errejón sente que as pessoas estão desiludidas e provavelmente muitas não querem votar. Por isso, refere, “damos um passo em frente para conseguir que o desencanto não seja sinónimo de abstenção nas urnas. Queremos fazer a nossa parte para chegar a um acordo de governo progressista”.
O ex-dirigente do Podemos garante que não está a oferecer os seus votos e sim apoiar um governo que tenha como pilares medidas com as quais todas as partes possam concordar. Para que isto seja viável sabe que vai ser preciso entendimento entre três partidos e está consciente de que “não foram diferendos programáticos que impediram a formação de um governo” depois das eleições de 28 de abril.
Íñigo Errejón afirma não ter qualquer tipo de relação com o primeiro-ministro em funções e líder do PSOE, Pedro Sánchez. E que a que tem com o seu ex-colega de partido Pablo Iglesias “já não é como foi” mas não pensa que para chegar a um acordo seja preciso que os políticos sejam amigos.
“Acima da relação está a vontade política”, garante, ao mesmo tempo que confessa ficar preocupado se a atitude mantida por Pedro Sánchez e Pablo Iglesias continuar a ser a mesma, com risco de haver ainda mais eleições antecipadas. Estas são já as quartas legislativas no espaço de quatro anos.