A dupla de sócios do escritório de advogados Mossack Fonseca, envolvido no caso “Panama Papers”, moveu um processo em tribunal por difamação contra a Netflix.
A plataforma anuncia a estreia, para esta sexta-feira, do filme “Laundromat: O escândalo dos Papéis do Panamá”.
Jürgen Mossack e Ramón Fonseca dizem, na acusação que foi submetida esta semana num tribunal norte-americano, que “Laundromat” retrata os dois sócios da firma como “advogados cruéis e indiferentes que estão envolvidos em lavagem de dinheiro, evasão fiscal, suborno e outras atos criminais”.
A história do filme anda à volta de uma mulher viúva que “investiga uma fraude e segue pistas que a levam a uma dupla de advogados do Panamá, cujo negócio é tirar partido das fragilidades do sistema financeiro mundial”, como se pode ler na descrição da Netflix. No filme, os dois advogados são interpretados por Gary Oldman e Antonio Banderas.
Os queixosos processam a Netflix, plataforma online onde o filme tem estreia agendada para esta sexta-feira (dia 18), por difamação e violação de marca registada, entre outras acusações.
Mossack e Fonseca afirmam que o filme os poderá sujeitar a “condições adicionais” por “cada novo crime” que lhes é imputado na história, podendo “levar os procuradores no Panamá a investigarem acusações ou implicações criminais” descritas no filme.
A acusação considera ainda que “Laundromat” pode interferir com o direito a um “julgamento justo” nos Estados Unidos, país onde os advogados estão sob investigação pelo FBI.
Do processo submetido em tribunal faz parte também a acusação de uso “depreciativo” do logo da marca registada dos advogados. “Os queixosos não autorizaram” a utilização dos logos e consideram que a forma como a imagem da marca é usada “diminui grandemente” o seu “valor e boa vontade”. Com o lançamento do filme, os advogados consideram que estão sujeitos a “danos imediatos irreparáveis”.
Mossack e Fonseca foram presos preventivamente em março deste ano. As autoridades acusam os sócios de lavagem de dinheiro. A Mossack Fonseca fechou as portos em março do ano passado, dois anos depois da divulgação dos Panama Papers.
O caso revelou um vasto sistema de evasão fiscal à escala global exposto em 11,5 milhões de documentos, numa investigação coordenada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ).
O ICIJ, fundado em 1997 e dirigido pelo jornalista australiano Gerard Ryle, reúne 190 jornalistas de mais de 65 países. A organização, com sede em Washington, é autora de investigações que cobrem áreas como a corrupção, a criminalidade internacional e os paraísos fiscais.
O caso já afetou várias figuras do mundo da política, incluindo o ex-presidente do Peru Alejandro Toledo, a campanha do ex-presidente da Colômbia Juan Manuel Santos e vários parentes do ex-presidente do Panamá Ricardo Martinelli. Foram também colocadas em causa atividades de vários desportistas e há portugueses na lista de visados no caso dos “Panama Papers”.