Kais Saied, um professor de Direito reformado, conservador e visto como um homem intocado por qualquer suspeita de corrupção, vai ser o próximo Presidente da Tunísia, segundo os resultados à boca das urnas publicados na madrugada de segunda-feira pelas agências de notícias internacionais.
Kais Saied, de 61 anos, terá conseguido 76% dos votos, quase mais 40 pontos que o seu rival, Nabil Karoui, grande magnata da comunicação social e que fez uma campanha muito mais intensa, com muito mais meios, revelou o Expresso.
Porém parece que os tunisinos, tanto os mais velhos como os mais novos, preferiram o cariz calmo, a pose altiva e as ideias de “tolerância zero” quanto à corrupção de Kais Saied.
A julgar pelas imagens que chegam da capital, Tunes, há muita gente feliz com este resultado. As ruas estiveram quase toda a noite intransitáveis, com milhares de pessoas concentradas na Avenida Habib Bourguiba, o centro dos protestos da Primavera Árabe, em 2011, da qual a Tunísia é dos bons poucos exemplos.
A população continua preocupada com algumas das coisas que levaram à revolução: corrupção nas esferas do governo e exército, taxa alta de desemprego jovem e inflação e colocaram as esperanças em dois nomes um pouco fora do sistema, nestas que são apenas as segundas presidenciais de sempre no país.
A campanha também não foi o tradicional comício itinerante: Nabil Karoui foi preso a meio, e fez campanha da cela, apelando ao povo que se revoltasse contra as motivações políticas da sua prisão (as alegadas suspeitas tinham mais de três anos sem nunca terem sido investigadas), e Kais Saied quase não fez campanha e teve de pedir dinheiro emprestado para se poder registar como candidato.
“Os jovens viraram a página na Tunísia”, disse Kais Saied com toda a família no palco, ao seu lado. “Vamos tentar construir uma nova Tunísia. Foram os mais novos que lideraram esta campanha e eu sou responsável pelos seus futuros”.
Os seus críticos sublinham que uma vitória de Kais Saied poderá resultar num regresso a um Estado mais autoritário já que o novo Presidente considera a homossexualidade uma doença e uma “importação estrangeira” e quer impor a pena de morte de novo.
Nabil Karoui já disse que está a pensar se concede ou não a vitória ao seu oponente já que considera a prisão quase na reta final da campanha uma manobra injusta e danosa para a sua imagem.