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EUA vão processar Edward Snowden por causa da sua autobiografia

mw238 / Flickr

O governo dos EUA vai processar Edward Snowden a propósito da autobiografia que chegou esta terça-feira a mais de 20 países. O processo judicial argumenta que autor violou acordos de confidencialidade.

A autobiografia de Edward Snowden, “Vigilância Massiva, Registo Permanente”, chegou esta terça-feira às livrarias de mais de 20 países. Agora, o governo norte-americano vai processar o seu autor.

O departamento de Justiça dos EUA entrou com uma ação esta terça-feira contra o ex-colaborador da CIA (Central Intelligence Agency) e da NSA (National Security Agency), alegando que o livro assinado por Snowden viola acordos de confidencialidade que ele mesmo assinou com as duas agências de informação.

No processo judicial argumenta-se que Snowden, hoje com 36 anos e a viver exilado em Moscovo, na Rússia, violou estes acordos ao publicar o livro sem que este fosse previamente revisto pelas duas agências para as quais trabalhou enquanto consultor, conselheiro, analista, administrador e engenheiro de sistemas informáticos.

Outro argumento remete para os discursos públicos protagonizados por Snowden, sobre espionagem, que também violam os acordos já citados.

Numa passagem do livro cedida pela editora para efeitos de pré-publicação, Snowden conta que durante os sete anos em que trabalhou na Comunidade da Informação (CI) americana, teve a oportunidade de “participar na mais significativa mudança na história da espionagem americana – a passagem da vigilância de alvos individualizados para a vigilância massiva de toda a população”.

“Ajudei a tornar tecnologicamente exequível para um governo coligir as comunicações digitais do mundo inteiro, arma­zená-las por períodos indefinidos e consultá-las à vontade”, diz.

Também conta como chegou à CIA — numa altura em que as agências “estavam a violar todas as regras que tinham estabelecido no empenho de contratar talento técnico”, nomeadamente a regra de não contratar ninguém que não “tivesse pelo menos um bacharelato, ou, mais tarde, no mínimo frequência uni­versitária”, sendo que ele não tinha nenhuma dessas coisas — e como se apercebeu do esquema de vigilância massiva montado pelos EUA depois de ter ido trabalhar para o Hawai, contratado pela NSA.

“Nas profundezas de um túnel sob uma plantação de ananases – uma antiga fábrica subterrânea de aviões da era Pearl Harbor –, sentava-me diante de um terminal que me dava um acesso quase ilimitado às comunicações de praticamente qualquer homem, mulher ou criança que à face da Terra usasse um telefone ou um computador. Entre essas pessoas havia cerca de 320 milhões de cida­dãos americanos, meus compatriotas, que na condução normal das suas vidas quotidianas eram vigiados numa grosseira contravenção não só da Constituição dos Estados Unidos como dos valores mais básicos de qualquer sociedade livre”.

O departamento de Justiça não procura impedir a distribuição do livro “Vigilância Massiva, Registo Permanente”, mas reclama que todos os lucros a ele associados revertam a favor do governo norte-americano. “As informações de inteligência deviam proteger a nossa nação, não providenciar lucro pessoal”, disse G. Zachary Terwilliger, procurador pelo distrito leste da Virgínia, onde o processo vai decorrer, citado pelo USA Today.

A 9 de junho de 2013, a partir de um quarto de hotel em Hong Kong, Snowden apresentou-se ao mundo como fonte de notícias que então abalavam a administração Obama. O analista publicou nesse mesmo ano documentos confidenciais sobre o programa de vigilância dos EUA e foi acusado de espionagem.

Acusado de espionagem por Washington, o norte-americano, que está na origem de numerosas revelações sobre a NSA, obteve em agosto o estatuto de refugiado político na Rússia durante um ano, após ter passado mais de um mês na zona de trânsito do aeroporto Moscovo-Cheremetievo.

O realizador norte-americano Oliver Stone dirigiu um filme em 2016 sobre a sua vida, com Joseph Gordon-Levitt no papel de protagonista, e Snowden também surge em “Citizenfour”, o premiado documentário de Laura Poitras.

ZAP //

 

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