O alemão Cornelius Gurlitt, em cuja residência foram descobertas em 2012 mais de 1.200 obras de arte, algumas eventualmente retiradas a judeus durante o regime nazi, deixou a coleção em testamento ao Museu de Belas-Artes de Berna.
A informação foi hoje divulgada pelo museu suíço, um dia depois do anúncio da morte de Cornelius Gurlitt, aos 81 anos. O colecionador alemão morreu na segunda-feira no seu apartamento de Schwabing (Munique), na presença de um médico e de um enfermeiro.
Num comunicado, o museu suíço indicou ter sido “informado através de uma mensagem telefónica e escrita de Christophe Edel, advogado de Cornelius Gurlitt”.
Segundo a mensagem do advogado, “Cornelius Gurlitt estabeleceu para legatário universal, a fundação de direito privado do Museu de Belas-Artes de Berna“, referiu o comunicado.
O museu afirmou ter ficado surpreendido com a decisão, garantindo que “nunca, em qualquer momento, manteve qualquer relação” com o colecionador alemão.
A instituição reconheceu ainda que este legado, cujo valor ainda não foi avançado mas que, segundo os media alemães, poderá atingir os mil milhões de euros, “coloca um conjunto de questões espinhosas, nomeadamente de natureza jurídica e ética”.
O Museu de Belas-Artes de Berna concluiu que, antes de adotar “uma posição concreta e fatual”, pretende consultar os documentos relacionados com o legado e estabelecer um primeiro contacto com as autoridades competentes.
Em fevereiro de 2012, mais de 1.280 obras de autores como Picasso, Matisse ou Chagall foram descobertas no apartamento de Cornelius Gurlitt em Munique. As obras tinham sido adquiridas pelo seu pai, Hildebrand Gurlitt, um negociador de arte bem relacionado com o regime nazi que as terá adquirido nos anos 1930 e 1940.
O tesouro privado de Cornelius Gurlitt só seria revelado à opinião pública em novembro de 2013, o que suscitou críticas às autoridades alemãs, que chegaram às obras de arte no âmbito de um processo por fraude fiscal.
Outras 200 pinturas, desenhos e esculturas, incluindo trabalhos de Monet, Manet, Cezanne e Gauguin, foram descobertas numa outra casa de Gurlitt, situada em Salzburgo, Áustria.
O caso Gurlitt relançou o debate sobre a restituição de obras retiradas aos judeus durante o regime do III Reich. A Alemanha assinou a Declaração de Washington, em dezembro de 1998, na qual 44 países se comprometeram a detetar e restituir as obras de artes que foram apropriadas pelo regime nazi.
A 8 de abril deste ano, as autoridades alemãs anunciaram que tinham alcançado um acordo com Cornelius Gurlitt.
Na altura, os governos federal e do estado da Baviera indicaram que o acordo iria possibilitar acelerar a investigação sobre os legítimos proprietários das obras de arte, prevendo um prazo de um ano para a investigação da origem da vasta coleção.
“Os trabalhos cuja origem não seja possível determinar pela equipa de investigação, ao longo de um ano, serão devolvidos a Cornelius Gurlitt”, explicaram na altura as autoridades alemãs, num comunicado.
Segundo o acordo, Cornelius Gurlitt poderia indicar um perito para a equipa de investigação, para assegurar que os seus interesses seriam representados, e os custos da operação seriam suportados pelo Estado alemão.
As obras descobertas na casa de Salzburgo não estavam abrangidas pelo acordo com as autoridades alemãs.
/Lusa
Tesouro nazi de Munique
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7 Maio, 2014 Colecionador alemão Cornelius Gurlitt deixa “tesouro nazi” a museu suíço