Os dados da Ordem dos Enfermeiros (OE) mostram que, nos primeiros seis meses de 2019, entraram 2321 pedidos para efeitos de emigração, quase tantos como ao longo de todo o ano passado.
Nos primeiros seis meses do ano, 2.321 enfermeiros pediram à Ordem a declaração para efeitos de emigração, quase tantos como ao longo de 2018 (2.736), avança o Público esta sexta-feira. Se esta tendência se mantiver, 2019 poderá ser mesmo um ano recorde.
Após dois anos de abrandamento (2016 e 2017), o número de pedidos para ter o documento que permite a estes profissionais de saúde trabalharem noutro país voltou a aumentar. Até agora, o ano em que houve mais pedidos foi em 2014 (2.814).
“É um número recorde. E acabaram agora os cursos e temos cerca de três mil jovens que ainda não sabemos se ficam ou se tencionam emigrar”, diz ao jornal a bastonária da Ordem dos Enfermeiros (OE), Ana Rita Cavaco, recordando que faltam 30 mil enfermeiros no sistema de saúde (público, privado e social).
“O rácio da OCDE é de 9,2 enfermeiros por mil habitantes. A média do SNS é de 4,2 e a média do sistema de saúde é de 6,2 por mil habitantes. Há uma falta crónica de enfermeiros e não há contenção. Eles continuam a emigrar”, lamenta a bastonária.
Ana Rita Cavaco avança ainda duas justificações para o atual aumento: o facto de os enfermeiros sentirem que estão a ser maltratados pelo ministério da Saúde e as más condições de trabalho que encontram em Portugal.
“Um é a agressividade e a forma como têm sido maltratados em Portugal por parte desta ministra da Saúde. Há um sentimento de injustiça. Não nos vamos esquecer que a ministra chamou aos enfermeiros criminosos”.
“Trabalham 70 horas semanais, acumulam milhares de horas a mais e perceberam que a carreira que era plausível sair acabou por ser uma mão cheia de nada“, afirma, dando o exemplo da limitação a 25% de enfermeiros especializados.
De acordo com a bastonária, os principais destinos continuam a ser dentro da Europa — Reino Unido, Suíça e Bélgica —, mas também já há quem aposte noutros “mercados emergentes como o Dubai e a Arábia Saudita”.
“Os enfermeiros são acarinhados pelas pessoas que os recebem. E têm propostas quase irrecusáveis, com valores muito mais do dobro do vencimento que recebem em Portugal. No Dubai ou na Arábia Saudita são de quatro mil euros para cima“, explica ao mesmo jornal Lúcia Leite, presidente da Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE).