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Vacina contra a cólera chega pela primeira vez a algumas aldeias de Moçambique

Fernando Chinda, 42 anos, tomou pela primeira vez na vida a vacina oral contra a cólera, mas não sabe se os nove filhos e duas esposas, que vivem em aldeias ciclicamente afetadas pela doença serão abrangidos pela campanha.

“Eu estava na machamba e quando regressei informaram-me que próximo ao mercado estavam a dar uma vacina para não ter cólera, e vim tomar”, disse à Lusa Fernando Chinda, lembrando que a doença se repete em tempos chuvosos.

A devastação de latrinas e o consumo de água de charcos é o cocktail fértil para a propagação do surto de cólera na vila de Nhamatanda, Sofala, centro de Moçambique, e uma campanha conjunta do governo e da Cruz Vermelha Internacional luta agora para que menos pessoas sejam contaminadas pela doença.

Várias brigadas de vacinação foram montadas nos subúrbios de Nhamatanda, incluindo nas aldeias vizinhas de Nharichonga e Chiluvo, para evitar o alastramento da cólera, que eclodiu quase duas semanas após a passagem do ciclone Idai por Sofala, em 14 de março e que provocou pelo menos 602 mortos no centro de Moçambique.

Fernando Chinda, mantém, contudo, esperança que os filhos sejam vacinados nas escolas e as esposas também, com a ida das brigadas às aldeias vizinhas de Nhamatanda.

“Eu só tomei a vacina, não sei do assunto”, disse à Lusa Sábado Malinha, que foi abordado por uma brigada quando regressava da mesquita numa rua de pó no subúrbio de Nhamatanda, acrescentando que os ativistas o convenceram que “a vacina era para defender a doença de cólera”.

A campanha contra a cólera tem como principal desafio a desinformação em Nhamatanda, de que a toma da vacina provoca o aumento de diarreia e alergias, e enfraquece o corpo. Mesmo perante a campanha de desinformação, Maria Chimica levou a vacina aos seus sete filhos, para evitar a doença, muito comum entre os habitantes de Nhamatanda.

“Algumas pessoas chegaram lá em casa e disseram que quando se toma a vacina dói a garganta e provoca comichão, mas quando eu tomei, não senti nada”, explicou à Lusa Maria Chimica, apelando a que as pessoas não acreditem na versão de que a vacina faz mal. As autoridades sanitárias de Nhamatanda estão a intensificar a campanha de adesão à vacina contra a cólera e consideram a participação popular satisfatória.

“Estamos a sensibilizar as pessoas dizendo que outros não morreram com cheias e podem morrer com cólera”, disse à Lusa Elsa Nordino, responsável pela campanha de vacinação no maior centro de abrigo das vítimas do ciclone em Nhamatanda, adiantando que a população está a aderir “porque tem visto o sofrimento das outras pessoas com diarreias nos hospitais”.

Além de Nhamatanda, a campanha cobre a cidade da Beira, e os distritos de Dondo e Búzi, largamente atingidos pelo ciclone que deixou milhares sem acesso a agua potável e destruição nas infraestruturas de saúde.

Em paralelo, decorre no Inchope, o principal cruzamento do centro de Moçambique, uma campanha de desinfeção de todas as pessoas que saem da Beira, para impedir o transporte da bactéria para o resto das províncias do país.

A cólera já matou seis pessoas. A sexta vítima mortal foi registada no distrito da Beira, o mais afetado pelo surto, distrito onde já foram contabilizados três quartos dos 3.161 casos notificados pelas autoridades.

A quase totalidade dos doentes (97%) têm tido alta após tratamento, permanecendo 91 casos por resolver. Destes 91 casos de cólera ainda sem cura, 54 estão no distrito de Beira, 19 no de Nhamatanda, 11 no distrito de Dondo e 07 no de Buzi.

ZAP // Lusa

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