A seguir à tragédia da praia Maria Luísa, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) procedeu a 16 derrocadas controladas e reforçou a sinalização para evitar que se repetissem ocorrências semelhantes.
Passados cerca dois meses, sem aviso prévio, na praia de Santa Eulália, contígua à Maria Luísa, desabou um rochedo com dez metros de altura e cinco de largura. As arribas e grutas do litoral do barlavento algarvio são frágeis, por natureza, e não há maneira de as segurar. Mais tarde ou mais cedo estão condenadas a desabar.
O então diretor da APA, Sebastião Teixeira, num relatório apresentado em 2009, diz que a “imprevisibilidade e carácter instantâneo” do desmoronamento tem características “muito idênticas aos perigos associados aos sismos“, de acordo com o Público.
Podem ser tomadas medidas preventivas, mas não se consegue prever o colapso. A título de exemplo, refere uma derrocada na praia do Canavial (Lagos) em junho de 1997, que só por sorte não causou mortes.
Tudo começou com uns pequenos blocos a deslizarem de uma arriba com 40 metros de altura. As três dezenas de pessoas que estavam a jantar saíram do restaurante, aos primeiros sinais de alarme. A seguir, deu-se um movimento de massas com 30 toneladas e o estabelecimento desapareceu.
A praia Maria Luísa, encontra-se catalogada com vulnerabilidade “elevada” e “muito elevada”. A radiografia é feita por Óscar Ferreira e Alveirinho Dias, investigadores da Universidade do Algarve, numa nota pública, divulgada a seguir à tragédia, em 2009. Quando a maré sobe, os banhistas aconchegam-se junto às rochas e os sinais de “queda de blocos” são ignorados.
A APA informou que a Administração da Região Hidrográfica (ARH) “não levantou qualquer auto sobre a permanência em zonas sinalizadas como zonas de risco”, pela simples razão de que “não existem zonas interditas no litoral algarvio”.
Óscar Ferreira e Alveirinho Dias defendem que o Estado “não pode eliminar (ou, pelo menos, minimizar fortemente) todos os riscos, sem coarctar de forma perigosa e quiçá inaceitável as liberdades individuais”. Os alertas para as situações de “perigo” devem fazer parte do conjunto de informação a dar aos cidadãos, para que sejam “responsáveis” pelos seus atos.
“Não é credível nem aceitável que a solução passe pela interdição sistemática de praias”, já que na região, enfatizam: “30% das praias do Algarve rochoso possuem vulnerabilidade muito elevada”. Porém, deixam alguns alertas que podem interferir na segurança das escarpas: “construção no topo das arribas e o trânsito de veículos”.
Na praia Maria Luísa, pode-se observar um quadro bem diferente. Mesmo por cima da escarpa que ruiu, estão construídas seis vivendas com relvados.
Entretanto o betão armado não estará muito distante e acabará por servir de barreira entre o mar e a terra.
As pessoas têm de começar a abraçar as conceitos de liberdade e responsabilidade com mais maturidade. O que isto quer dizer com tantas “dades” é que o Estado deve colocar avisos claros em letras garrafais à entrada das praias a dizer qual o perigo e que se as pessoas o querem correr, é por sua conta e risco. Depois se ficarem esborrachadas, paciência… Não foi falta de aviso.
As pessoas não têm de ser infantilizadas e “protegidas” com proibições. Liberdade implica responsabilidade. Senão daqui a bocado é melhor proibir as pessoas de respirarem pra prevenir o cancro do pulmão.