Um tribunal especial de Itália, responsável por analisar inquéritos que envolvem ministros em funções, determinou, esta quinta-feira, que o vice-primeiro ministro e líder do partido de extrema-direita e anti-imigração Liga, Matteo Salvini, pode ser julgado por sequestro.
Em causa está um inquérito iniciado pelo Ministério Público de Agrigento, na Sicília, por alegado abuso de poder e sequestro, depois de o também ministro do Interior ter impedido 177 migrantes de desembarcar de um navio humanitário, que esteve atracado seis dias no porto de Catania, indicou esta quinta-feira o Guardian.
Segundo o jornal britânico, Matteo Salvini impediu o desembarque dos migrantes – a maioria da Eritreia (África Oriental) -, enquanto mantinha um impasse com a União Europeia (UE), na tentativa de pressionar outros países a acolhê-los.
Os requerentes de asilo acabaram por ser acolhidos pela Igreja Católica, pela Irlanda e pela Albânia, que não é um estado-membro da UE.
Embora os migrantes tenham sido autorizados a desembarcar na Sicília, o caso levou Matteo Salvini a bloquear a atracagem de navios humanitários em todos os portos do país, bloqueio esse que continua em vigor até à data, indica um artigo do Independent, também divulgado na quinta-feira.
Depois da abertura da investigação ao líder da Liga, o tribunal especial italiano rejeitou as recomendações da procuradoria-geral para que o processo fosse suspenso, avançando que Matteo Salvani pode, efetivamente, ser julgado por rapto.
Sendo um ministro em funções, as acusações serão apresentadas ao Senado da Câmara dos Deputados de Itália, que votará se o mesmo deve ou não ser julgado.
“Posso enfrentar de 3 a 15 anos de prisão porque parei o desembarque de ilegais na Itália”, escreveu o vice-primeiro ministro na sua página da Facebook. “Estou sem palavras. Estou com medo? De modo nenhum. Vou continuar a trabalhar para defender as fronteiras do meu país e a segurança dos italianos“, escreveu na sua conta do Twitter.
E acrescentou: “Pergunto ao povo italiano: devo continuar a ser o ministro, exercendo os meus direitos e deveres, ou devo pedir a este ou aquele tribunal que [decida] a política de imigração?”, disse ainda.
O ministro do Interior disse estar “confiante” sobre o apoio dos senadores da Liga. Mas o apoio de seus parceiros de coligação, do partido populista MoVimento 5 Estrelas (M5S), “é muito menos garantido”, visto que um dos seus princípios fundadores “sempre foi pedir a renúncia de políticos sob investigação”, indica o Guardian.
Esta regra foi criada com o intuito do partido de apresentar uma imagem limpa e distanciar-se da corrupção.
Há dois anos, o vice-primeiro-ministro italiano e líder do M5S, Luigi Di Maio, pediu a renúncia do então ministro do Interior, Angelino Alfano, que estava sob investigação por abuso de poder. “Não podemos permitir que um ministro do Interior sob investigação permaneça no poder. [Angelino] Alfano deve renunciar”, afirmou na altura.
De acordo com o Guardian, ainda não se sabe a posição do partido. Caso o M5S vote contra os processos criminais, salvando assim Matteo Salvini de uma possível condenação, “o partido perderia a credibilidade entre os seus defensores”.
No entanto, se o partido apoiar a investigação, corre o risco de perder o atual vice-primeiro ministro e a sua aliança política, “o que faria com que todo o governo caísse“.