Os oceanos do mundo estão a passar por uma transformação perigosa. Cientistas detetaram vastas “zonas mortas”, nas quais a água hipóxica não tem o oxigénio necessário para a vida marinha sobreviver.
Esta metamorfose – que aumentou mais de dez vezes desde a década de 1950 – foi um dos principais mecanismos por trás da extinção em massa mais letal da história. E agora, revela um novo estudo, este fenómeno não é exclusivo do mar, mas também está a emergir nas zonas urbanas de água doce nos Estados Unidos.
“Ficámos surpreendidos ao descobrir que esyas zonas mortas estão a acontecer nos nossos próprios quintais, não apenas em rios e águas costeiras a jusante das principais fontes de poluição”, explicou a ecologista de ecossistemas Joanna Blaszczak, da Universidade Duke.
No seu estudo, publicado a 3 de dezembro na revista Limnology & Oceanography, Blaszczak e a sua equipa monitorizaram as concentrações de oxigénio gasoso em seis riachos urbanos na Carolina do Norte durante um período de 18 meses, também medindo os níveis de luz, química da água e fluxo.
O que descobriram foi que o impacto da atividade humana no ambiente natural em redor de rios afeta o regime de fluxo destes cursos de água – graças aos processos de erosão, diminui o fluxo, levando ao aumento da estagnação da água.
“Os ribeiras que drenam as áreas desenvolvidas estão sujeitos a intensos fluxos erosivos quando as estradas e o conjunto de tubos de águas pluviais rapidamente encaminham o escoamento para os riachos durante as tempestades, sem permitir que a água se infiltre no solo”, disse Blaszczak.
“Descobrimos que a erosão causada por estes fluxos intensos mudou a forma de alguns canais de fluxo de tal maneira que a água essencialmente parou de fluir durante o final do verão”.
Quando a água deixa de fluir, um riacho pode efetivamente tornar-se como uma série de poças ligadas entre si de água quase sempre imóvel. Essa estagnação tem um preço: a acumulação de nutrientes e matéria orgânica.
Esta mistura pode não parecer saudável para os habitantes das ribeiras – e não é. Em metade dos riachos estudados, as condições cronicamente degradadas levaram a baixas concentrações de oxigénio.
Num destes casos, a equipa observou peixes mortos. As zonas mortas também são uma ameaça à vida marinha que não conseguimos ver tão facilmente: bactérias e outros organismos pequenos que vivem nos ecossistemas e que dependem de uma fonte de oxigénio dissolvido na água para permanecerem vivos.
“Descobrimos que as taxas de crescimento de algas que suportam as cadeias alimentares de fluxo foram mais lentas”, diz Blaszczak. “Juntamente com a ocorrência de hipóxia, isto cria uma situação sombria e stressante para os organismos de água doce que estão a tentas sobreviver nestas correntes urbanas”.
“Hipóxia não é comum em ribeiras e rios por causa do fluxo de corrente, que, normalmente, move a água rápido o suficiente para evitar a diminuição do oxigénio dissolvido por bactérias em níveis hipóxicos”, diz Blaszczak.
“No entanto, a construção de barragens e outras alterações humanas que impedem o fluxo de água tornam esses ecossistemas de água doce particularmente vulneráveis à hipóxia, com implicações negativas para a biodiversidade, especialmente em rios já sobrecarregados com alta poluição nutricional”.
É muito cedo para dizer se estes resultados seriam replicados em rios maiores que atravessam os EUA. Mas os investigadores dizem que é mais do que provável.
ZAP // Science Alert