Amputada resistiu à perda, melhorou imagem e é modelo em desfile de moda

ANAMP / Facebook

Desfile de Moda Inclusiva promovido pela Associação Nacional de Amputados, ANAMP

Rita Alves perdeu metade de um braço num acidente de trabalho aos 33 anos e hoje, oito anos depois, voltou a trabalhar numa cozinha, sonha fazer voluntariado em Moçambique e vai participar, como modelo, num desfile de moda inclusivo.

Quando em 2003 perdeu o antebraço e metade do braço, ficando com uma invalidez de 87%, Rita Alves era cozinheira chefe num restaurante no Porto. Seguiram-se oito anos de sofrimento e várias tentativas de suicídio.

Desisti de viver”, recorda de um processo de “rejeição do que tinha acontecido e vergonha de ser vista na rua amputada” e cujas implicações ditaram não só o seu “divórcio e desinteresse pelos filhos” como também por ela, acabando por chegar aos 102 quilos e por sofrer um enfarte em 2010.

Em 2011, e após um incêndio na sua cozinha, viu-se obrigada a pedir ajuda a uma associação de Matosinhos – Sociedade São Vicente de Paulo – que mais tarde a viria a convidar para ali fazer voluntariado.

Hoje sou a responsável pela cozinha na cantina social da Sociedade São Vicente de Paulo e faço ‘workshops’ diários com os idosos, ajudando-os a preparar o que será mais tarde a sua sobremesa do jantar”, conta, orgulhosa do seu regresso às cozinhas.

Confessando que “os sorrisos dos idosos são hoje a sua força”, Rita Alves investiu na sua imagem e contabiliza, com vaidade, os “40 quilogramas que perdeu entretanto”, preparando-se para em novembro ter um novo desafio profissional, a trabalhar na cozinha de um café.

Quando a antiga chefe de cozinha participar no Desfile de Moda Inclusiva promovido pela ANAMP, Associação Nacional de Amputados, na Exponor, no âmbito da Feira Normédica/Ajutec, mais do que uma pessoa sem o antebraço direito, pontificará alguém que ousou resistir depois de oito anos em que a depressão a fez perder quase tudo.

“Acho que as fases negativas por que tinha de passar já aconteceram. Agora sonho em viajar pelo mundo”, contou a modelo da ANAMP que, assumindo o “bichinho do voluntariado”, tem em mente um novo desafio: integrar uma missão de voluntariado em Moçambique “para poder ajudar as crianças” daquele país.

Dizendo-se “perfeitamente adaptada” à nova vida, recorda que “até a prótese rejeitou” por considerar ser-lhe “mais fácil fazer as coisas sem ela”.

E num trajecto em que “nada aconteceu por acaso” adoptou uma cadela rafeira, a Jade, também ela amputada de uma pata, e que só não vai desfilar com ela na Exponor, ao som da Orquestra da Casa da Música, “por estar doente”.

Em declarações à Lusa, a presidente da ANAM, Paula Leite, explicou que o desfile inclusivo “destina-se a mostrar às pessoas amputadas que a vida não terminou com o acidente que sofreram” e que “há condições para continuar a ter uma vida activa”.

Os 15 modelos irão desfilar trajando roupas do Corte Inglés, mas com as próteses à mostra, mostrando que “não há razões para sentir menos bonitos que as outras pessoas nem é o fim da vida pelo facto de ter perdido um membro”.

// Lusa

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