Arqueólogos israelitas anunciaram uma descoberta histórica num dos lugares mais sagrados, emblemáticos e disputados da Terra Santa: um anfiteatro romano de mais de 1800 mil anos de idade, oito metros abaixo do famoso Muro das Lamentações.
As escavações expuseram também mais uma secção do Muro em si, que estava encoberto há pelo menos 1700 anos – soterrado provavelmente por um terramoto.
O Muro das Lamentações, visitado por mais de 3 milhões de pessoas por ano, na Cidade Velha de Jerusalém, é considerado o ponto mais sagrado para o judaísmo, mas também é reverenciado por cristãos e o terceiro local mais sagrado para os muçulmanos. Fica ao lado da Esplanada das Mesquitas, ou Monte do Templo, para os judeus.
As escavações israelitas na Cidade Velha são criticadas pelos palestinianos, já que toda a região esteve sob controle jordano até 1967, ano em passou para o controlo dos israelitas após a Guerra dos Seis Dias.
A disputa por Jerusalém é um dos pontos nevrálgicos do conflito entre israelitas e palestinianos, que sustentam que toda a parte Oriental de Jerusalém, onde se encontra a Cidade Velha, ocupada por Israel, lhes pertence como parte de um Estado palestiniano independente.
Para os israelitas, a Cidade Velha e Jerusalém Oriental são parte indivisível de Israel, tendo sido anexada por lei em 1980. Defendem que a cidade nunca fez parte de qualquer nação moderna, já que os jordanos também já tinham ocupado a parte Oriental da cidade, depois da Guerra de 1948-49, após três décadas sob administração britânica.
Mistério finalmente solucionado
O Muro das Lamentações é que o resta da muralha de contenção de Herodes, que reinou na Judeia de 37 AC a DC, construída para sustentar o Segundo Templo judaico, destruído pelos romanos em 70 DC.
Actualmente encontra-se no local o Santuário da Rocha, ou Al-Haram Al-Sharif, com a sua famosa cúpula dourada.
Os arqueólogos desenterraram oito níveis do Muro das Lamentações. Estavam totalmente preservados, apesar de terem passado milénios soterrados. O local da escavação fica abaixo do chamado “Arco de Wilson“, no canto esquerdo do actual Muro, tal como conhecido pelos turistas.
O “Arco de Wilson” era uma das passagens através das quais, na época de Jesus Cristo, há dois mil anos, os moradores de Jerusalém e visitantes podiam subir até ao Monte do Templo. Originalmente, tinha 13 metros de altura.
O anfiteatro romano, com 200 assentos, pequeno em comparação com outros da região, como em Cesareia, foi descoberto junto ao Muro, confirmando os relatos de historiadores da época, como Flávio Josefo (37-100 DC), de que havia uma construção semelhante adjacente à muralha.
Também foram descobertos vasos de cerâmica, moedas e elementos arquitectónicos.
As primeiras escavações arqueológicas no local foram realizadas no século XIX, em 1864, pelo arqueólogo britânico Charles William Wilson, que descobriu o arco que actualmente ostenta o seu nome.
Mas Wilson não conseguiu descobrir o anfiteatro, descrito quer pelos historiadores quer por fontes do período pós-destruição do Segundo Templo, época em que os romanos trocaram o nome de Jerusalém por Aelia Capitolina.
Outro detalhe interessante é o facto de que, segundo os arqueólogos, o pequeno anfiteatro, do tipo que os romanos chamavam de “odeon”, nunca foi terminado, e por algum motivo a construção foi abandonada – talvez por causa da revolta judaica de Bar Kochba, levantamento que teve lugar entre 132 e 135 DC.
“Da perspectiva dos pesquisadores, é uma descoberta sensacional, uma verdadeira surpresa”, diz o arqueólogo Joe Uziel, da Autoridade de Antiguidades de Israel. “O nosso objectivo era apenas datar o Arco de Wilson, mas não podíamos imaginar que iríamos solucionar um dos maiores mistérios de Jerusalém: o seu anfiteatro perdido.”
ZAP // BBC
“Mais de 1800 mil anos de idade”
É melhor corrigirem…