Arqueólogos canadianos desenterraram parte de uma estátua, datada de há 3 mil anos, que teria entre 4 a 5 metros e que pode ajudar a reescrever a história quanto ao papel que as mulheres desempenharam na antiguidade.
A escultura, feita em basalto e representando uma mulher, foi encontrada em escavações na zona onde ficaria situada a porta de entrada da cidadela de Kunulua, a actual Tayinat, na Turquia, a cerca de 75 quilómetros da cidade síria de Aleppo.
Os arqueólogos do Departamento de Civilizações do Oriente Próximo e Médio da Universidade de Toronto, no Canadá, encontraram apenas a cabeça e o torso da estátua, medindo cerca de 1 metro de comprimento e 70 centímetros de largura, conforme se salienta no comunicado divulgado no site Sciencedaily.
Isto leva os arqueólogos a concluir que a estátua completa teria “entre 4 e 5 metros”. Trata-se de uma escultura colossal, mas que vem ao encontro das dimensões monumentais de outra estátua encontrada no local pelo Projecto Arqueológico de Tayinat, TAP, que decorre desde 1999.
Esta outra estátua, encontrada em 2012, tem cerca de 4 metros e parece representar o Rei Suppiluliuma, que governou o reino hitita de Patina, de que Kunulua era a capital, no início do Século IX antes de Cristo.
Os arqueólogos acreditam que as duas estátuas podem estar relacionadas.
Certo é que, dizem os arqueólogos, “a descoberta desta estátua levanta a possibilidade de que as mulheres tiveram um papel mais importante, na vida política e religiosa, nestas comunidades do início da Idade do Ferro, do que sugerem os registos históricos existentes”, destaca o director do TAP, Timothy Harrison, citado pelo Sciencedaily.
Desfigurada num ritual
A estátua de mulher agora encontrada tem o rosto e o peito desfigurados e os arqueólogos acreditam que essa destruição pode ser sido intencional, no âmbito de algum ritual.
“As suas características marcantes incluem um anel de cabelos encaracolados que se destacam por debaixo de um xaile que lhe cobre a cabeça, ombros e costas”, explica Timothy Harrison.
“A estátua foi encontrada de cabeça para baixo numa espessa camada de fragmentos de basalto que incluía lascas dos seus olhos, nariz e face, mas também pedaços de esculturas encontradas, anteriormente, noutras partes, dentro da área da porta de entrada”, acrescenta Harrison, notando que alguns desses fragmentos “provêm da cabeça do Rei Suppiluliuma que foi descoberta em 2012″.
Isto indicia que as partes das duas “esculturas monumentais” foram depositadas juntas, “o que sugere que pode ter havido um processo elaborado de enterro ou desmantelamento, como parte da sua destruição”, diz ainda o director do TAP.
Identidade misteriosa
Os arqueólogos esperam, agora, poder restaurar grande parte da cara e do torso da escultura original. Já mais difícil poderá ser desvendar quem é que a estátua representa afinal.
“É possível que seja uma representação de Kubaba, a mãe divina dos deuses da antiga Anatólia”, começa por apontar Harrison.
“Contudo, há pistas estilísticas e iconográficas que apontam que a estátua representa uma figura humana, possivelmente a esposa do Rei Suppiluliuma ou, o que seria ainda mais intrigante, uma mulher chamada Kupapiyas, que foi a esposa – ou talvez a mãe – de Taita, o fundador dinástico da antiga Tayinat”, acrescenta o também professor de Arqueologia.
Kupapiyas terá vivido mais de 100 anos e terá sido uma figura importante, sendo um dos poucos nomes de mulheres que sobreviveu no tempo, dessa região e desse período da história, como nota o Sciencedaily.